sábado, 17 de julho de 2010

Estádio de Brasília é inspirado em Niemeyer

Estádio Nacional de Brasília terá capacidade para 71 mil pessoas.
Dando continuidade à nossa série sobre a Copa do Mundo de 2014, o Massa Cinzenta traz a você o projeto para o Estádio Nacional de Brasília, na capital federal do país. Hoje chamado de Estádio Mané Garrincha, a sede brasiliense para a Copa de 2014 será totalmente reformada e foi projetada pela Castro Mello Arquitetos – que há três gerações está envolvida em construções esportivas.
Analisado como um dos estádios mais caros da Copa de 2014, o Estádio Nacional de Brasília será executado pelas construtoras Andrade Gutierrez e Via Engenharia, que venceram a licitação com o preço de R$ 696 milhões. Com capacidade para 71 mil pessoas, é um forte candidato a sediar a abertura da Copa do Mundo.
Nossa proposta para o estádio traduz a filosofia de Oscar Niemeyer e respeita a imagem de Brasília"
O Estádio Mané Garrincha foi projetado em 1974 por Ícaro de Castro Mello e sua reformulação e transformação em Estádio Nacional de Brasília está a cargo do filho do arquiteto original, Eduardo de Castro Mello. Sua localização fica junto ao Eixo Monumental de Brasília, no espaço denominado como Centro Esportivo Ayrton Senna. “Nossa proposta para o novo estádio traduz a filosofia arquitetônica e respeita a imagem já consolidada de Brasília, que foi projetada por Niemeyer”, explica o arquiteto.
A preocupação dos arquitetos com um projeto visualmente agradável se justifica pela vizinhança: além de Brasília ter sido projetada pelo ícone da arquitetura, Oscar Niemeyer, o Eixo Monumental é onde se concentram as obras mais importantes do arquiteto. “Nós devemos apresentar uma solução que dialogasse com as obras de arte vizinhas”, afirma.
Mudanças estruturais
O projeto da Castro Mello envolve o rebaixamento do campo e a modernização de todo o espaço. “No novo estádio, a pista de atletismo desaparece, o campo de jogo é rebaixado em 4,50 metros e a arquibancada inferior se aproxima das linhas laterais e de fundo de campo”, revela Castro Mello.
Visão da arquibancada do Estádio Nacional de Brasília.
Outra preocupação dos projetistas é a iluminação natural: a porcentagem de vidro é maior nas partes mais internas da cobertura, permitindo uma maior iluminação solar diretamente no gramado. Por mais que os espectadores estejam na sombra, os raios solares podem atrapalhar a visão do jogo. Para evitar este problema, a cobertura possui uma segunda membrana semitransparente, que difunde os raios solares mantendo a claridade sem incidência direta.
O Estádio Nacional de Brasília não foi projetado apenas para a Copa de 2014. “Existe uma proposta de cobertura retrátil para a parte central do estádio, que terá grande utilidade para a realização de shows artísticos”, afirma o arquiteto. “Afinal o desejo é que seja uma arena multiuso, mesmo após a Copa”. Apesar da retirada da pista de atletismo, o Estádio de Brasília será utilizado para shows e outros eventos, como as Olimpíadas de 2016.
Seguindo o conceito de EcoArena – que todos os estádios da Copa no Brasil devem seguir – o Estádio de Brasília irá reaproveitar a água da chuva para irrigar o campo e também utilizará energia solar fotovoltaica. “Ao se instalarem 13 mil metros quadrados de painéis fotovoltaicos o estádio poderá ser a primeira Arena Energia-Zero do mundo”, revela Castro Mello.
Conheça melhor o projeto
Depois de certa demora no processo de licitação, o Estádio Nacional de Brasília já está sendo erguido no lugar do Mané Garrincha. A previsão de conclusão é em dezembro de 2012, para que esteja apto a receber a Copa das Confederações em 2013. “Com esta estrutura, Brasília pretende sediar o jogo de abertura da Copa de 2014 e também participar da Copa das Confederações. Para isso, é necessário que o estádio esteja finalizado, no máximo, em dezembro de 2012”, explica Castro Mello.
Para agilizar o processo de construção, parte do estádio será erguida com estruturas pré-moldadas. “Os painéis de sustentação e o anel de compressão da cobertura serão em concreto moldado in loco. Já as arquibancadas e lajes serão pré-moldadas, pois são os sistemas mais indicados e representam o melhor custo-benefício”. Eduardo Castro Mello justifica ainda o uso do pré-moldado pelas características do projeto: em um estádio as peças se repetem com regularidade. Além disso, existe um prazo máximo para a conclusão da obra e o concreto pré-moldado ajuda a diminuir o tempo da construção.
Durante a obra serão utilizados:
- 129.279 m³ de concreto (sendo 69.219 m³ para as arquibancadas e 60.150 m³ para as estruturas da esplanada, rampas, pontes e colunas e anel de compressão);
- 14.627.080 kg de aço CA-50 para concreto armado;
- 431.375 m² de formas de compensado;
- 1.300.000 m³ de cimbramentos metálicos tubulares;
- 24.660 tirantes e
- 416.573 kg de aço para estruturas metálicas secundárias.
Entrevistado:
Eduardo de Castro Mello
Currículo:
Arquiteto e consultor em arquitetura esportiva. Desde 1970 projeta construções esportivas no Brasil e no exterior. É membro da Associação Internacional para Instalações Desportivas e Recreativas (IAKS), com sede em Colônia, na Alemanha, e, hoje, está à frente do escritório Castro Mello Arquitetura Esportiva.

FONTE: Cimento Itambé

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sustentabilidade high tech

Extravagantes, edifícios como os de Dubai e China tentam provar que são sustentáveis. Por isso, transformaram-se em grandes geradores eólicos e captadores fotovoltaicos. Mas isso é viável?


Nos parques de diversões da arquitetura contemporânea, a corrida tecnológica flerta agora o discurso ecológico. Turbinas eólicas incorporadas em arranha-céus em Bahrain, grandes painéis fotovoltaicos em Dubai, sistemas geotérmicos na China e imensas coberturas vivas na Califórnia vão bem além das exigências de certificações ambientais. Mas quanto esses recursos podem de fato contribuir para melhorar a eficiência das edificações - e mais, o quão próximo da realidade esses sonhos nas alturas chegam?
Os fortes ventos trocados entre o Golfo Pérsico e o deserto levaram a uma escolha óbvia em países da Península Arábica: turbinas eólicas incorporadas na edificação. "No caso de arranha-céus, pode haver um potencial de aproveitamento. Estamos falando de mais de 100 m de altura, onde a velocidade do vento tende a ser mais alta do que no solo", diz o engenheiro Fernando Westphal, gerente de eficiência energética do Centro de Tecnologia de Edificações.
Desde abril de 2008 três turbinas unidirecionais de 29 m de diâmetro giram entre as duas torres gêmeas de 240 m de altura e em forma de vela do Bahrain World Trade Center, criado pelo escritório britânico Atkins. O objetivo é que a brisa do Golfo Pérsico suprisse até 15% da energia consumida pelo prédio. Isso representaria 1,3 mil MWh por ano, suficientes para iluminar 300 casas e deixar de emitir 55 t de carbono anuais.
Segundo a Atkins, o custo de até 30% do valor do projeto tornaria inviável a integração de turbinas de larga escala, tanto por conta da adaptação do projeto do prédio quanto das pesquisas de turbinas especiais. A solução foi usar turbinas convencionais sustentadas cada uma por um eixo horizontal de 50 t.
A solução não foi a ideal - melhor seria que tivessem eixo vertical. "As turbinas eólicas de eixo vertical têm a vantagem da facilidade de manutenção, normalmente funcionam com vento vindo de todas as direções, sem a necessidade de possuírem mecanismos como leme para colocarem as pás na direção dos ventos", diz a professora Eliane Fadigas, do Departamento de Engenharia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Mas o balde de realismo no deserto de fantasias fez com que sua incorporação custasse menos de 3% do projeto, segundo o escritório.
Para resolver o fato de a turbina ser fixa, a Atkins projetou para as torres um perfil elíptico que afunila o vento. Testes em túnel de vento mostraram que o desenho não apenas forma pressão negativa na parte de trás do prédio, o que acelera o vento entre as torres em até 30%, como também o desvia num percurso em formato de "S" cujo centro permanece quase perpendicular à turbina dentro de um azimute de 45º.
Embora a idéia do BWTC tenha sido diminuir a dependência de reservas energéticas fósseis num clima desértico, seu projeto não tem estratégias de baixa emissão de carbono dos padrões europeus.
Caro demais para o Brasil? Por enquanto, sim. Embora algumas regiões brasileiras como o litoral do Nordeste e o Rio Grande do Sul tenham um potencial eólico grande, "o preço da eletricidade praticada no Brasil em todos os setores consumidores faz ainda inviável economicamente a instalação tanto da tecnologia fotovoltaica quanto eólica em edificações nas áreas urbanas", diz Eliane.
Mas, segundo Westphal, não faltam recursos e razões para investidores bancarem essas tecnologias em empreendimentos de alto nível. "Certamente, o investidor vai tirar proveito como uma estratégia de marketing, mas a sociedade vai sair ganhando com o alívio proporcionado ao parque gerador de energia, o que diminui os impactos ambientais. Esse alívio pode ser ínfimo, se pensarmos em um ou dez prédios. Mas se a tecnologia for disseminada, o custo tende a baixar, mais empreendimentos passam a adquirir o sistema e aí começamos a ter benefícios significativos para todos."
Tecnologia dez, emissões zero
A China, onde ficam 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo, está correndo atrás para não sobrar como a vilã ecológica do século 21. Além de construções com certificação Leed do Green Building Council na Vila Olímpica de Pequim e da ecocidade Dongtan, em construção para servir de modelo de sustentabilidade na Expo-Xangai de 2010, está previsto para esse mesmo ano o primeiro arranha-céu com emissão zero de carbono do país - e do mundo. A americana Skidmore Owings & Merrill espera que o vento e o sol sejam capazes de abastecer toda a energia consumida pelo prédio projetado para a Guangdong Tobacco, em Cantão, iniciado em 2006.
Com as estratégias de redução e absorção de energia, o prédio deve consumir 65% menos que o previsto pelas leis chinesas.
Nas orientações Norte e Sul foi feito duplo fechamento em vidro low-E, com ventilação entre as duas lâminas, e instalada persiana automatizada; a Leste e Oeste, o fechamento foi triplo, protegido por brise soleil.
Contrariando o senso comum sobre prédios altos, a face mais larga da torre é a que recebe maior carga de vento. A estrutura curvilínea da torre ajuda a forçar o ar por quatro fendas na fachada, cravadas em dois andares mecânicos, onde estão instaladas turbinas eólicas de eixo vertical. Segundo a Skidmore, esse design deve forçar a velocidade em 2,5 vezes - compensando o fato de turbinas de eixo vertical serem, segundo Eliane, menos eficientes que as de eixo horizontal.
Um sistema baseado na inércia térmica do solo resfria a 25ºC no subterrâneo a água aquecida a 38ºC nas torres de resfriamento do prédio. No Brasil, embora haja pouca informação sobre o potencial geotérmico para a geração de energia, também é possível, segundo Westphal, usar a inércia térmica do solo para a climatização de ambientes internos. "Em São Paulo, se cavarmos um buraco de 6 m de profundidade, a temperatura do solo estará praticamente a 20ºC o ano inteiro. Esse potencial pode ser utilizado por meio de um sistema de tubos enterrados", diz. Tal sistema consiste de uma série de tubos que, quando adequadamente dimensionados  a uma certa profundidade, podem resfriar o ar externo que passa em seu interior quando estiver acima de 20ºC antes de introduzi-lo no ambiente interno para a renovação de ar. Embora exija um consumo para ventilação, este é ainda bem menor que o de condicionadores.
Para tornar o arranha-céu energeticamente independente, a Skidmore incluiu ainda painéis fotovoltaicos no projeto. Embora vários prédios comecem a adotar esses painéis, seu uso em áreas urbanas, servidas por rede elétrica, ainda não é viável, segundo Eliane. "Sua eficiência está em torno de 13%. Porém, geram energia em corrente contínua, enquanto nossas cargas funcionam em corrente alternada, necessitando de outros componentes no sistema, entre eles os inversores. Assim, a eficiência total fica em torno de 10%." Mas, para a professora, esses módulos já são viáveis em áreas remotas onde não há viabilidade de estender a rede da concessionária.
Shunji Ishida, RPBW
Academia de Ciências da Califórnia, que recebeu certificado Leed Platina do Green Building Council americano; seus 10 mil m² de cobertura vegetal absorvem 14 milhões de litros de chuva por ano e contribuem com o isolamento térmico
Torres de vento

O arquiteto alemão Eckhard Gerber e os engenheiros ambientais da DS-Plan também entraram na corrida da emissão zero, desta vez com um sistema de refrigeração da arquitetura persa: as torres de vento (veja ilustração). Na Burj al-Taqa, aberturas na fachada a cada cinco andares permitirão que a pressão negativa criada na face oposta à que recebe a carga de vento retire o ar quente das salas. Num poço subterrâneo com água do mar, o ar seco do deserto será refrigerado pela evaporação. Com o diferencial de pressão entre o interior do prédio e o poço causado pelos ventos, não será necessária nenhuma ventilação mecânica para trazer o ar fresco até os corredores e escritórios por meio de cinco átrios perimetrais transparentes e um central, nos quais serão instalados jardins suspensos.
Para evitar o aquecimento por radiação, um escudo solar cobrindo um segmento de 60º girará em torno do prédio entre as camadas da fachada dupla de acordo com o percurso do sol. Diferentemente de brises soleil estacionários, o escudo ficará somente onde e quando for necessário.
Segundo Gerber, esses e outros sistemas devem reduzir em 40% o consumo energético do prédio em comparação a semelhantes. Para torná-lo 100% auto-suficiente, foram previstos uma turbina eólica de eixo vertical tipo Darrieus de 60 m de altura no topo da torre, dois conjuntos de painéis fotovoltaicos no total de 15 mil m² e uma ilha flutuante de painéis solares de 17 mil m² sobre o mar. O excedente deve ser usado na eletrólise de água para obter hidrogênio, utilizado na geração de eletricidade à noite.
Rodas gigantes
Na gincana tecnológica não basta mais que hélices girem. O prédio inteiro precisa fazer malabarismos. O arquiteto florentino David Fischer criou a Dynamic Tower - um projeto de edifícios de uso misto cujos andares giram independentemente numa velocidade de uma rotação por 1,5 hora em volta de um eixo central, onde estão instalados elevadores e tubulações elétrico-hidráulicas. Escondida entre cada andar está instalada uma turbina eólica horizontal que gira nesse mesmo eixo. Fischer espera que elas gerem toda a energia do edifício-carrossel, junto a células fotovoltaicas instaladas nas lajes de cada andar, que terão 20% da superfície exposta ao sol.
A primeira torre, com 80 andares espalhados em 420 m, está prevista para Dubai - onde apartamentos já podem ser reservados. A segunda deve ser construída em Moscou, com 70 andares e 400 m de altura.
Somente o eixo central deve ser construído no canteiro de obras. Já os apartamentos serão como um grande Lego, compostos de módulos em formato de fatias com acabamento e sistema elétrico-hidráulico prontos, industrializados na Itália. Os gastos com transporte estão muito longe de qualquer parâmetro de sustentabilidade, mas, por outro lado, a montagem in situ dos módulos por meio de guindastes é extremamente limpa.
Segundo Fischer, cada andar poderá ser completado em sete dias, com tempo de construção reduzido em aproximadamente 30%. De acordo com o arquiteto, a construção da Dynamic Tower precisaria de 600 operários e 80 técnicos no canteiro, comparados a 2.000 num projeto de mesma escala não pré-fabricado.
Os objetivos da pré-fabricação não são apenas reduzir o tempo de montagem e diminuir gastos na escala, mas também replicar o modelo e espalhar torres giratórias pelo mundo.
Alcir Moro, presidente da construtora curitibana Moro, não se mostra eufórico diante da idéia de David Fischer. "Esse projeto é apenas publicidade. Não há nada construído. A primeira verdadeira torre giratória construída no mundo está aqui, no Brasil", diz Moro.
Após dez anos de projeto e construção, foi concluído em 2004 em Curitiba seu Suíte Vollard. São duas torres interligadas de 11 andares: uma circular em que cada pavimento gira independentemente, propulsionado por um motor de ¾ de HP, na velocidade de uma rotação por hora, e outra fixa onde estão instaladas a circulação vertical e a parte hidráulica, como cozinha.
Até hoje, a rotação dos apartamentos não resultou em moradores. "Trata-se de um prédio conceitual, de um laboratório. Foram decorados quatro apartamentos para uma feira e, depois, desmontados", diz Moro. Hoje, passa por uma reforma que deve ser concluída em abril de 2009. Cada apartamento de 287 m² custará R$ 1,5 milhão - sem turbinas eólicas.
Corte da praça
Jardins suspensos da Califórnia
Quem visita o parque Golden Gate, São Francisco, nos Estados Unidos, encontra 10 mil m² de sua vegetação suspensa sobre colinas artificiais pontuadas por clarabóias. Abaixo dessas 1.200 toneladas de solo e plantas nativas foi inaugurado em setembro de 2008 o novo edifício da Academia de Ciências da Califórnia - complexo que reúne aquário, planetário e museu de História Natural. O prédio, que consome 35% menos energia do que o prescrito pelas leis da Califórnia, recebeu o certificado Leed Platina do Green Building Council americano.
Mas o quão longe vai o benefício proporcionado por esse tipo de cobertura? Neste caso, além de absorver 14 milhões de litros de água pluvial por ano, ela substituiu o isolamento térmico, ajudando a diminuir o uso de ar-condicionado. Os gastos com manutenção como irrigação, podas e reposição foram reduzidos com a escolha de plantas nativas, que melhor se adaptam ao clima da região.
Já em edifícios com áreas menores de cobertura, a contribuição é pequena. "Mas se a maioria dos prédios passar a adotar esse tipo de solução, o benefício para o ambiente urbano vale a pena, pois diminui o efeito de ilha de calor", diz Westphal.


Sede da empresa de biotecnologia Genzyme; escritório Behnisch Architekten empregou heliostatos, espelhos fixos e cobertura prismática para direcionar raios solares até o átrio central do prédio, onde são redistribuídos por espelhos suspensos
Casa dos espelhos
O escritório Behnisch Architekten recebeu da empresa de biotecnologia Genzyme um quebra-cabeça: encaixar 920 escritórios em 33 mil m² usando o mínimo de energia tanto para circulação vertical quanto para iluminação e climatização.
A resposta foi uma microcidade espalhada em 12 andares ao redor de um enorme átrio central, iluminada completamente com luz natural.
Para isso, foram adotadas duas estratégias. No perímetro do prédio, venezianas motorizadas direcionam a luz natural para forros refletores das salas. Já no átrio, a luz entra e é dispersa por meio de uma cobertura de anteparos prismáticos móveis. Para aproveitar o máximo de iluminação durante o dia, heliostatos instalados na cobertura do átrio acompanham o movimento do sol para redirecionar os raios para espelhos fixos que, por sua vez, projetam os raios para o átrio. Dentro do prédio, candelabros de espelhos redirecionam os raios para as salas.
O átrio central serve também para receber o ar quente dos escritórios, que sobe e sai por sua cobertura. Esse fluxo constante mantém os ambientes frescos e ventilados nas estações quentes.  O prédio também recebeu o certificado Leed Platina.
Um projeto assim, no entanto, não pode ser transferido automaticamente ao Brasil, em cuja latitude o céu possui muito mais luminância. "Enquanto em países de clima temperado as grandes áreas envidraçadas se justificam pelo aproveitamento de luz natural, no Brasil elas apenas trazem problemas de ofuscamento de difícil controle", diz Westphal. "Não tem por que usar um peitoril transparente aqui, pois não há ganhos significativos em termos de luz natural. Há, sim, o aumento de carga térmica e desconforto por assimetria de radiação."
Para o engenheiro, mesmo os caros vidros de alto desempenho que permitem a execução de grandes áreas envidraçadas sem prejuízo ao conforto térmico não se justificam. "Aumentar custos não é a melhor solução do ponto de vista da engenharia. Não é sustentável."
Portanto, o melhor aqui seria diminuir a área de janelas e projetar proteções solares externas como brises, que permitem o bloqueio da radiação solar direta quando for indesejável no interior da edificação.
Seriam necessárias soluções mirabolantes dignas dos quadrinhos do professor Pardal para atingir a sustentabilidade? Não, segundo o engenheiro Nelson Kawakami, diretor-executivo do Green Building Council Brasil, organização gestora da certificação de sustentabilidade Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), que já tem 79 construções registradas no País, a maioria - mas não todas - no eixo Rio-São Paulo.
"A tecnologia ajuda, mas não é essencial", diz Kawakami. "O principal para fazer um projeto sustentável é a vontade de fazê-lo, e não a sofisticação tecnológica. O prédio do Banco Sul Americano (1960/63) de Rino Levi, na Avenida Paulista, já era um prédio com conceito de sustentabilidade."
Kawakami cita como exemplo de construção sustentável brasileira o Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras) no Rio de Janeiro, de Siegbert Zanettini e José Wagner Garcia, que deve ser concluído em 2010. "Ele traz tudo de interessante do ponto de vista de um projeto sustentável e sem grandes tecnologias", diz. Essencial para o projeto foi a integração de todas as disciplinas - arquitetura, sistemas de ecoeficiência, paisagismo, planejamento e produção da obra. Para Kawakami, não existe mais espaço para o arquiteto formalista na era da sustentabilidade.
Divulgação: Moro
Edifício Suíte Vollard, concluído em 2004; sua construtora, a curitibana Moro, afirma ser o primeiro no mundo a girar. O recurso, que não tem propósito ambiental, elevou o custo das unidades a R$ 1,5 milhão
Estatal verde

O conjunto de 160 mil m² abrigará o maior centro tecnológico da América Latina, com 4.500 cientistas. Seu desenho, predominantemente horizontal, prevê um edifício central de escritórios com 300 m de comprimento e 50 m de largura do qual partirão prédios laterais, onde se abrigarão laboratórios, orientados a Norte e Sul para evitar a radiação direta.
O projeto foi fortemente influenciado pelo clima quente-úmido, detalhadamente analisado a partir de um banco de dados climáticos feito pelo Labaut FAUUSP de cada uma das 8.760 horas de um ano, incluindo temperatura, umidade, direção e velocidade do vento, radiação solar e precipitação. Suas plantas estreitas com fachadas sombreadas favorecerão ventilação e iluminação naturais e a vista para o mar. Os edifícios serão conectados por espaços de transição entre interior e exterior, com jardins implantados no terraço do edifício central, entre os prédios laboratórios, nas áreas de convivência e nas passagens entre edifícios, criando microclimas.
Outro ponto positivo é a industrialização de seus componentes - ponto em que, segundo Kawakami, o Brasil ainda precisa evoluir, mas que grandes lideranças como o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, já desenvolveram sistematicamente.
O canteiro do Cenpes foi pensado como um local de montagem, e não construção. Com exceção de alguns pilares de apoio e fundações de concreto, privilegiou-se o uso do aço nas estruturas, enquanto o fechamento externo foi feito com painéis pré-moldados de concreto e as vedações internas, em drywall.
Além de um canteiro de obras limpo, isso permite uma grande flexibilidade para desmontar, transportar e montar as peças caso seja necessário reconfigurar o layout do prédio.
Outra unidade da Petrobras - um conjunto de 110 mil m² numa área arborizada da praia do Canto, Vitória (ES) - foi projetada pelo escritório de Sidonio Porto com estratégias ambientais.
Além de levar em consideração a orientação solar e usar um cinturão verde de árvores antigas, Sidonio Porto prevê microclimas mantidos por espelhos d'água e vegetação, brises de chapas perfuradas em branco, aletas que formam uma espécie de veneziana externa e vidros com pigmentação verde-claro. Isso não apenas protege da insolação como não impede a circulação do ar junto às fachadas. A previsão é que o ganho solar fique abaixo de 0,35.
Estudos de vento foram feitos a partir de dados do Ministério da Aeronáutica relativos ao aeroporto de Vitória. A combinação do arranjo dos edifícios e a topografia do terreno permitirão a incidência dos ventos sobre todo o conjunto. Nos edifícios que precisarem de ar-condicionado, a ventilação natural sobre as fachadas removerá parte do calor absorvido da radiação solar.
A maioria de seus prédios terá na laje um piso técnico aberto, como um hiato entre o volume construído e sua cobertura. Isso formará um espaço intermediário ventilado que cancelará ganhos advindos da radiação solar. Já a cobertura do auditório terá um terraço-jardim.
Mas não são necessários os investimentos de uma megaestatal para construir verde.
Na capital paulista, o Eldorado Business Tower, do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos, obteve a pré-certificação Leed Platina do GBC-Brasil. Para isso, atingiu 50% de economia de água, 30% de energia e 75% de resíduos desviados de aterros sanitários.


Divulgação: Atkins
Canarinho ecológico

A Copa de 2014 deve botar em prática no Brasil mais estratégias simples a favor do meio ambiente. A Fifa exigiu que o estádio do Maracanã recebesse um estacionamento para pelo menos cinco mil carros na depredada região dividida entre o Maracanã e São Cristóvão pela linha de trem. O escritório Artetec Arquitetura propôs a transformação do lugar em uma estação multimodal ecologicamente correta, combinando as estações existentes de trem, metrô e ônibus, um estacionamento de carros sobre a linha de trem e outro para bicicletas. Todos os estacionamentos em volta do estádio devem ser transformados em parques para aumentar a permeabilidade do solo, freqüentemente inundado no verão. Também um reservatório subterrâneo será construído para armazenar as águas da chuva coletadas pela cobertura da estação, que depois devem ser usadas para irrigação.
Aberturas na cobertura da nova estação liberarão o ar quente, enquanto um jardim interno imenso abaixo do nível térreo contribuirá para o microclima e painéis solares na cobertura e no estacionamento gerarão energia. O projeto deve começar a ser realizado em agosto de 2009, mas já rendeu uma menção honrosa no prêmio Holcim de 2008 para a América Latina.
Com o pé mais no chão, estratégias podem ser adotadas nas mais simples construções. É o que mostrou um time do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina liderado pela arquiteta Maria Andréa Triana e pelos engenheiros Roberto Lamberts e Marcio Antonio Andrade ao desenvolver uma torre de armazenamento, tratamento e aquecimento solar de água pluvial que pode ser incorporada tanto por moradias novas quanto existentes, mesmo em regiões onde predominam autoconstruções de grande adensamento. O projeto ganhou menção honrosa na premiação da Holcim.
Em uma porção inferior da torre de ferrocimento há uma cisterna que armazena água de chuva coletada pelo telhado da casa. Ela é utilizada, por exemplo, nas descargas. Um coletor solar aquece essa água, que é mantida quente em um tambor, para ser utilizada no banho. Ao substituir o chuveiro elétrico, um quarto do consumo de energia da casa pode ser reduzido. Já na parte superior é armazenada água tratada e potável, para as torneiras de pias.
Eliane considera os coletores solares para aquecimento de água uma das alternativas mais interessantes. "Infelizmente, seu uso no Brasil ainda é muito tímido. Agora que estão surgindo leis municipais e políticas de incentivos para essa tecnologia. Porém há muito por fazer pois não basta exigir seu uso. As edificações têm que estar preparadas para recebê-las", diz a professora.
Seja de alta ou baixa complexidade, disseminar tecnologias energeticamente eficientes é importante para que futuramente seus custos caiam. "Foi o que aconteceu com as lâmpadas fluorescentes compactas", exemplifica Westphal. "No início, eram caras e a economia não pagava o investimento em curto prazo." Com seu incentivo, ganharam credibilidade, seu uso cresceu, e sua oferta também. Resultado: hoje há lâmpadas compactas de qualidade por R$ 9,00 contra incandescentes comuns a R$ 2,00. "O custo é quatro vezes maior e a eficiência também. Ou seja, ela se paga."
E esse é o papel de certificações como o Leed - ou dos experimentos de "professores Pardais". Empresas que têm recursos instalam tecnologias inovadoras. Isso impulsiona a introdução dessas inovações no mercado, populariza os produtos e reduz os custos. No fim, todos saem ganhando.
Divulgação: Atkins
Dubai International Financial  Centre Lighthouse

Dubai, Emirados Árabes Unidos
Atkins
> Altura: 400 m (66 andares)
> Três turbinas eólicas de eixo horizontal de 29 m de diâmetro e 225 kW máximos com ventos entre 15 e 20 m/s
> 4.000 painéis fotovoltaicos
> Projeto conceitual


Divulgação: Gerber 
Architekten
Burj al-Taqa, Bahrain

Bahrain
Gerber Architekten, DS Plan

> Altura 322 m (68 andares)
> Sistema de "torres de vento"
> Turbina eólica de eixo vertical Darrieus de 60 m de altura no topo do edifício
> 32 mil m² de painéis fotovoltaicos
> Estação de hidrólise para produção  de H2
> Brise giratório que acompanha o sol
> Formato cilíndrico para diminuir a área exposta ao sol forte do Golfo Pérsico
> Custo: US$ 406 milhões
> Status: projeto

Shunji Ishida
Academia de Ciências da Califórnia

São Francisco, Califórnia, EUA

Renzo Piano Building Workshop, Stantec Architecture, Arup, SWA Group
> 10 mil m² de cobertura viva absorvem 14 milhões de litros de água pluvial por ano
> 213 mil kWh gerados por ano por  60 mil células fotovoltaicas (5% a 10%  do consumo do prédio)
> 90% do entulho dos prédios antigos reutilizados na construção de uma estrada
> 12 mil toneladas de aço recicladas  e usadas na estrutura metálica do  novo prédio
> 50% de madeira certificada
> 90% de espaços de ocupação intensa iluminados naturalmente
> Isolamento termoacústico feito com algodão de jeans reciclado
> Custo: US$ 429 milhões
> Status: inaugurado (2008)

Anton Grassl
Genzyme Center

Cambridge, Massachussetts, EUA
Behnisch Architekten

> 33 mil m² em 12 andares
> Iluminação interna natural mantida por heliostato no teto que acompanha o sol e reflete raios sobre espelho, que por sua vez os projeta para o átrio do prédio
> Redirecionamento de raios no átrio por meio de candelabros de espelhos
> Venezianas motorizadas que direcionam automaticamente luz natural no perímetro do edifício de acordo com movimento do sol
> 30 mil pontos de automatização controlados por um sistema central
> Cobertura viva
> 1/3 de fachadas duplas, separadas em 1,2 m com vão ventilado durante o verão
> 18 jardins internos
> Painéis fotovoltaicos
> Status: inaugurado (2004)

Divulgação: Zanettini
Cenpes da Petrobras-RJ

Rio de Janeiro (RJ)
Siegert Zanettini, José Wagner Garcia (co-autor), Centro de Pesquisas da Petrobras, Labaut-FAU-USP
Status: Projeto

Dez estratégias de sustentabilidade  do Centro de Pesquisas  da Petrobras
1 - Orientação solar adequada
2 - Forma arquitetônica adequada aos condicionantes climáticos locais
3 - Materiais construtivos das superfícies termicamente eficientes
4 - Superfícies envidraçadas com taxa de WWR (Window Wall Ratio) adequada
5 - Proteções solares externas adequadas às fachadas
6 - Ventilação natural
7 - Iluminação natural
8 - Uso da vegetação
9 - Sistema para uso racional e reúso de água
10 - Materiais de baixo impacto ambiental

Marcelo Scandaroli
Eldorado Business Tower

São Paulo (SP)
Aflalo & Gasperini Arquitetos 

> Resíduos destinados à reciclagem
> Materiais utilizados na construção produzidos na região
> Vagas no estacionamento destinadas a bicicletas e a veículos de combustível menos poluente
> Água captada da chuva e da condensação do sistema de ar-condicionado usada na irrigação de áreas verdes permeáveis, no espelho d'água, em vasos sanitários do térreo e dos subsolos e na lavagem dos pisos  das garagens
> Janelas com vidros de alta transmissão luminosa e baixa emissividade (0,30)
> Ar-condicionado com volume de ar variável (VAV)
> Elevadores com ADC e frenagem regenerativa, que recupera para outros elevadores energia dissipada quando um pára numa descida
> Luminotécnica noturna com lâmpadas fluorescentes atrás de fachada de vidro, evitando holofotes

Divulgação: Sidonio Porto Arquitetos Associados
Petrobras
Vitória (ES)
Sidonio Porto Arquitetos Associados

> Áreas verdes e espelhos d'água entre os prédios, para manter microclimas
> Relação janela-parede de 0,42 e aproveitamento de iluminação natural em 2/3 da profundidade das salas
> Coletores solares para aquecimento  de água para restaurante
> Painéis fotovoltaicos
> Uso de painéis em concreto  pré-fabricado
> Água pluvial armazenada em lagos para ser reutilizada em irrigação
> Tratamento de esgoto para reúso em instalações sanitárias

Divulgação: 
Dynamic Architecture
Dynamic Tower

Dubai, Emirados Árabes Unidos
Dynamic Architecture (David Fischer)

> Altura: 420 m (80 andares)
> 79 turbinas eólicas de eixo vertical
> Células fotovoltaicas
> Montagem modular com pré-fabricados
> Projeto conceitual, apartamentos  sob encomenda
Detalhamento:
20 primeiros andares: escritórios
21º ao 35º: hotel de luxo
36º ao 70º: apartamentos residenciais
71º ao 80º:  mansões verticais
Nas entradas das mansões serão instaladas garagens, que os moradores mais afortunados acessarão por meio de elevadores para carros.
Cada unidade, de 124 m2 a 1.200 m2, deverá custar entre US$ 4 milhões e US$ 40 milhões.
Pearl River Tower
Cantão, Guangdong, China
Skidmore, Owings & Merrill

> Altura: 309 m (71 andares)
> Turbinas elólicas de eixo vertical (Darrieus)
> Painéis fotovoltaicos
> Base larga e estreita para captar  mais vento
> Torres d'água com resfriamento geotérmico
> Em construção
Bahrain World Trade CenterBahrain
Atkins

> Altura: 240 m (50 andares)
> Três turbinas eólicas de eixo horizontal de 29 m de diâmetro e 225 kW máximos com ventos entre 15 e 20 m/s
> Status: construído
> Geração: 1,3 mil MWh por ano
Melhores estratégias para um prédio energeticamente eficiente no Brasil> Uso de brises para promover a proteção solar nas horas mais críticas
> Peitoris opacos, com tratamento térmico
> Uso de vidros com baixo fator solar
> Integração entre luz natural e artificial, por meio de sensores e controles que promovam o desligamento do sistema artificial quando a luz natural for suficiente
> Sistemas de ar-condicionado  com alta eficiência e  adequadamente dimensionados
> Ciclos economizadores integrados aos sistemas de ar-condicionado, quando o clima for propício
> Sistemas de distribuição de ar e controle mais individualizados
> Ventilação natural, quando o uso da edificação permitir
> Simulação computacional do desempenho térmico e energético da edificação para definir as estratégias mais adequadas ao clima e dimensionar adequadamente os sistemas de ar-condicionado.

Fonte: revistaTechné.com
             

Viaduto estaiado em São Paulo tem tecnologia de selas passíveis de manutenção

Peças especiais permitem a passagem dos estais por um pilar maciço, em forma de arco. Obra em fase final de execução tem 122 m de comprimento.

O viaduto estaiado Padre Adelino, na zona Leste de São Paulo, deve ser concluído em 60 dias e tem como principal diferencial o uso de tecnologia de selas passíveis de manutenção. Executado pela Construbase, sob a coordenação da Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras), o viaduto cruza a avenida Salim Farah Maluf e ligará os bairros Tatuapé e Anália Franco ao Belém e à Mooca, melhorando o fluxo da Radial Leste, uma das principais vias de São Paulo.
Divulgação: Construbase
Visão geral do viaduto estaiado Padre Adelino
O viaduto terá 122 m de comprimento, 20,30 m de largura, além de dois passeios laterais de 2 m cada um. Ao todo, serão quatro faixas para veículos, sendo duas em cada sentido. Segundo Antonio Fernando C. Sampaio, engenheiro da Siurb, o método estaiado foi escolhido por possibilitar a execução da obra sem grandes modificações no fluxo da avenida Salim Farah Maluf. "Um pilar central permite a execução das lajes sem que se faça uma intervenção muito grande no movimento da avenida", explicou. A prefeitura chegou a estudar a utilização de sistemas convencionais como vigas pré-moldadas, caixão cimbrado e balanço sucessivo, mas nenhum dos três conseguiu, ao mesmo tempo, vencer o vão pré-definido, de 61 m, e o gabarito (distância entre o solo e a superfície inferior da laje) ideal para a passagem de grandes caminhões.
A solução estaiada com travamento, método convencional no Brasil, também não pôde ser utilizada no viaduto. Isso porque o espaço livre para o posicionamento do mastro central na Avenida Salim Farah Maluf é bem menor do que o necessário para esse tipo de estrutura. "No viaduto Padre Adelino não era possível construir o pilar grande como normalmente é feito, que teria quatro vezes a dimensão do que foi adotado, de 43 m de altura, o que não caberia no meio da avenida"
Os engenheiros então optaram pela tecnologia de selas passíveis de manutenção. "O principal diferencial desse viaduto estaiado é que ele não tem travamento, o pilar é maciço, em forma de arco, e possui selas, que são peças especiais que permitem a passagem dos estais", conta Marcelo Yassuo Sunemi, gerente de produção da Construbase. Com isso, ao invés dos estais serem travados no mastro, eles vão de ponta a ponta no viaduto. "Com as selas, os estais têm as mesmas possibilidades de manutenção dos sistemas convencionais, seja em caso de acidente ou qualquer outro tipo de acontecimento. Por isso, falamos que é passível de manutenção", completa o engenheiro. Ao todo, 40 estais foram instalados na estrutura, sendo cada um formado por 48 cordoalhas de aço.
Divulgação: Construbase
Detalhe das selas já concretadas no arco que serve como pilar central
Outra dificuldade da obra era a esconsidade do viaduto em relação ao pilar central. A esconsidade acontece quando o eixo longitudinal do viaduto não forma um ângulo reto com o eixo longitudinal do obstáculo transposto, no caso, o mastro de 43 m de altura. "Isso influencia em muitos detalhes de projeto executivo, principalmente na geometria do viaduto. Foi preciso implantá-lo com um encaixe no viário esconso de 10° e com um apoio perpendicular à avenida", explica o engenheiro. "Olhando para os estais, em qualquer ponto do viaduto, nunca um cabo fica simétrico ao outro, estão todos 10° torcidos. Não só os estais, como todas as lajes e todos os pontos do viaduto estão girados em 10°", continua.
A obra do viaduto estaiado Padre Adelino foi iniciada em 2007, com a preparação do local. Os engenheiros então fizeram a fundação em tubulão com ar comprimido, depois os pilares do mastro até a altura do travamento onde nascem as lajes, executaram o travamento com mais 1,5 m. Após essa etapa, foi a vez da construção do mastro, que foi concretado em 12 lances, sem contar o fechamento. "Na fase atual, estamos terminando a parte das lajes e fazendo os acabamentos do viaduto", lembra o gerente de produção Construbase.
A construção do viaduto estaiado faz parte da obra do Complexo Padre Adelino, que também é constituído por outras duas intervenções: a construção do Viaduto Catinguá/Balem, que ligará a região da Penha ao Belém e ao Brás, e a ampliação de duas faixas do viaduto Pires do Rio, na Radial Leste, além do seu reforço e reforma. O custo total da obra é de R$ 114 milhões e a previsão de inauguração do complexo é para dezembro de 2010.
Divulgação: Construbase
Estrutura será sustentada por 40 estais
Divulgação: Construbase
Obra já está na etapa de acabamento
Divulgação: Construbase
Viaduto está 10° esconso em relação ao mastro central
Divulgação: Construbase
Três obras do Complexo Padre Adelino: viaduto estaiado (esquerda), ampliação do viaduto Pires do Rio (centro) e novo viaduto Catiguá-Balém (direita)