Dizem que obra vicia. Quem começa não quer sair. Inicia como estagiário e almeja a coordenação para não tirar o "pé da lama". Com o aquecimento do setor, o giro é maior, e os salários, mais atrativos. No entanto, faltam profissionais disponíveis, por isso as empresas investem cada vez mais na formação e em planos de crescimento. Quer fidelidade, difícil hoje em dia. Famosa por seus planos de carreira e pela ideologia de obra enxuta implantada por Hugo Marques da Rosa, um engenheiro de produção, a Método trata de forma especial seus calouros. O engenheiro de obras jovem da Método entra na empresa como estagiário e começa um longo treinamento para desenvolver o espírito de liderança e a capacidade de gerir pessoas e projetos. Enquanto desenvolve na faculdade conhecimentos de cálculo, estrutura e resistência dos materiais, conhece na prática os limites do que aprendeu. É na empresa que o jovem engenheiro da Método vê a materialização da teoria. De estagiário a trainee, agora formado, ele passa a ver a obra como um negócio.
Um profissional em formação
Tradicionalmente, o engenheiro de obras é do sexo masculino, uma vez que nas salas de aula a maioria é composta ainda por homens. Mas hoje é muito comum ver mulheres liderando canteiros. Segundo João Paulo Reis Faleiros Soares, gerente de RH da Método, em São Paulo, "elas são respeitadas e devem ser cada vez mais numerosas". Nos canteiros da Método, encontram-se tanto jovens recém-saídos da faculdade como profissionais experientes que já desenvolveram a prática e o espírito de liderança. Para Soares, "na obra, a energia vale muito, mas experiências também, uma vez que esse profissional administra contratos, negocia com clientes, fornecedores e departamentos internos".
É desejável que sua formação vá além da técnica e do desenho. Para a Método, convém ao engenheiro de obras possuir o certificado em PMP (Project Management Professional), emitido pelo PMI (Project Management Institute), ter um MBA (Master of Business Administration), uma pós-graduação em gestão, conhecimentos em marketing e finanças. "Ele vai administrar um negócio que deve gerar resultado para os acionistas da empresa", lembra Soares. Ele é "o cara" que faz a coisa acontecer, que lida com o fornecedor, que controla prazos, custos e qualidade, que administra os riscos, que põe o pé na lama. Tem que entender de produção e de planejamento, estar atualizado com as novas técnicas construtivas, mas também saber mobilizar a sua equipe. Essa prática e esse traquejo, ele adquire na obra. "Não há escola que ensine uma pessoa a ser dinâmica", comenta Soares.
O engenheiro de obras não é um cara sutil, tampouco um brucutu. É equilibrado, próximo da equipe e dá feedback. Foca-se no desenvolvimento dos integrantes a fim de entregar a obra dentro do prazo, "sem ser um tratorzão", compara Soares. O profissional que trabalha no canteiro da Método enfrenta desafios como tocar obras de grande porte fora dos grandes centros. Por isso, mobilidade, disponibilidade para viajar - para o Nordeste, Angola, ou Dubai - e desprendimento do conforto e da família são inalienáveis. "Tem de ser nômade", ressalta.
O talento para o canteiro de obras é identificado nas entrevistas de recrutamento e nos treinamentos realizados pela construtora, que investe na gestão de desempenho profissional, fornecendo também feedbacks negativos para ajudar no desenvolvimento tanto de quem está começando quanto de quem está há algum tempo na empresa. Apesar de formar os engenheiros que nela trabalham, a Método também valoriza o profissional experiente. "Nos processos seletivos de engenheiros seniores, procuramos conhecer quais resultados ele conseguiu obter, e com qual nível de dificuldade", explica o gerente de RH da construtora. Mas uma coisa é certa, tem que sentir emoção vendo a obra acontecer.
Pronto para tempos difíceis
Um homem de negócios e marketing, que conhece o público com quem está lidando. No perfil desenhado pela Tecnisa, o engenheiro de obras é um cara equilibrado e com espírito de liderança, que otimiza os recursos e a mão de obra, enfrentando tempos difíceis. Para ele, a obra é uma unidade de negócios. A atitude é o que conta para a Tecnisa na contratação do engenheiro de obras. "Treinamos suas habilidades, dando base para as competências", diz Denise Bueno, gerente de RH, em São Paulo. Ciente de que é na prática que o engenheiro adquire experiência, a empresa possui uma política voltada para o desenvolvimento, dispondo de programas para estagiários. Também oferece a escola corporativa, que prepara líderes, e a bolsa educação para os profissionais com dois anos de empresa.
A Tecnisa procura identificar, dentro da própria corporação, o profissional que será um "tocador de obra". "Percebemos, em São Paulo, que quem estuda no Mackenzie, Unip (Universidade Paulista) e Fesp (Faculdade de Engenharia de São Paulo) tem esse perfil", conta. Mas se for contratar um engenheiro formado, é desejável que ele tenha MBA ou pós-graduação, vivência em canteiro e no ambiente que está entrando. Esse profissional vem triado, o RH apenas seleciona. Para saber se ele tem talento, são os 90 dias de experiência que vão contar. Também convém que ele esteja atualizado sobre os processos tecnológicos que aceleram a construção. A decisão por um engenheiro júnior ou sênior vai depender do porte da obra. De uma a duas torres, pode ser escalado um engenheiro mais novo. Se o empreendimento for maior, opta-se pelo sênior, com mais experiência. O salário médio de um engenheiro pleno júnior é de R$ 6 mil.
Com o aquecimento do mercado, segundo Bueno, sexo e idade já eram para a Tecnisa. A mulher está cada vez mais presente nas obras, e logo se percebe o seu toque: "É um canteiro mais organizado, e os funcionários a respeitam". O mito de que engenheiro não gosta de canteiro foi enterrado de vez. Segundo Bueno, os recrutamentos para seis canteiros apresentaram quantidade razoável de interessados. E os que gostam do canteiro, certamente seguem para a coordenação e a diretoria técnica.
Muito jogo de cintura
Profissionais pró-ativos e flexíveis, que saibam lidar com as adversidades da construção, tenham habilidade em gerir pessoas, custos e prazos e sejam focados em padrões de qualidade - isso poderia ser um anúncio da Even para contratar engenheiros. Sexo e idade não importam. "O que conta é a experiência e a disponibilidade da pessoa. O tempo de experiência depende da complexidade da obra", ressalta Anabela Pereira Félix Linhares, analista de Recursos Humanos da Even, no Rio de Janeiro. O profissional de canteiro precisa ter jogo de cintura para resolver problemas em seu dia-a-dia, como atrasos nas entregas de mercadorias e orçamentos, sempre tendo em mente as expectativas do cliente quanto a prazos e qualidade, que deve ser impecável e corresponder ao que ele adquiriu em planta. Por isso, é um sujeito mais agressivo, com comportamento pró-ativo e imediatista. A experiência, segundo Linhares, o engenheiro adquire principalmente fazendo estágio. Para quem quer atuar em obras, afirma, "é imprescindível que inicie no canteiro de obras. Os trabalhos administrativos vão aparecer como consequência".
Na seleção para engenheiro de obras, a Even, que oferece salário de R$ 4.000,00 para quem está começando, exige experiência em edificação, estágio, noções de informática, cálculo e que esteja antenado às novas tecnologias da construção civil. Se ele é de canteiro ou não, Linhares identifica quando percebe que o profissional gosta do que faz e sente prazer em atuar em obras. No Rio de Janeiro, é comum o engenheiro fazer carreira no canteiro: "Os cariocas não conseguem se imaginar sentados na frente do computador todos os dias. Eles gostam de obra, desenvolvem-se rapidamente e continuam a atuar no canteiro, como gerentes de obra e não mais como engenheiro residente", conta Linhares. No entanto, apesar de tantos quesitos e de a carreira estar atrativa para o engenheiro civil, Linhares conta que, com o aquecimento do mercado, a demanda aumentou e, atualmente, está difícil encontrar esse profissional.
Custos e negócios
O engenheiro de obras da Goldsztein Cyrela é formado em negócios e entende de custos. Mede e avalia os resultados dos empreendimentos por indicadores. "Ele não é mais focado em concreto, ferro e aço", diz Rogério Raabe, diretor de obras da Goldsztein Cyrela, em Porto Alegre.
A empresa espera dele disciplina, liderança, comprometimento com a entrega do empreendimento e familiaridade com a gestão de negócios. "Ele não pode perder dinheiro. Deve ter domínio sobre a mão de obra, visando à produtividade", acrescenta. O perfil procurado pela Goldsztein Cyrela é de um especialista na formação da mão de obra, um treinador de novos treinadores, um agregador de equipes.
Para a empresa, experiência conta, mas não pesa tanto. Segundo Raabe, o engenheiro mais velho tem vícios e cacoetes que podem atrapalhar. O mais importante é que o profissional esteja apto a buscar desafio e que possua as habilidades desejadas, que podem já estar em seu "DNA" ou serem desenvolvidas em treinamento. Ele deve ter um perfil desafiador uma vez que todo dia tem uma montanha de problemas para resolver. "O que não podemos é ter um engenheiro com cara de chuchu", brinca. Com o objetivo de forma(ta)r esse profissional, segundo as melhores práticas, alinhando-o à cultura da empresa, a Goldsztein Cyrela dispõe de programas de estágio e trainee, além da Academia Cyrela, que financia cursos de MBA. Com o mercado aquecido e a alta rotatividade de profissionais, está cada vez mais difícil achar "esse" engenheiro ideal. Para reter seu capital humano, a Goldsztein Cyrela possui planos de carreira e oferece bonificação anual, de acordo com a sua produtividade. "Quanto mais ele se agrega à estrutura da empresa e se torna mais capacitado, deixa de migrar e aumentam as condições de ele crescer aqui dentro", conclui.
Planejador com espírito empreendedor
Trabalhar sob pressão, correr contra o tempo, reduzir custos e garantir qualidade são os principais desafios vivenciados no cotidiano do engenheiro de obras da MRV. Líder, ético e responsável, esse profissional relaciona-se bem, tem espírito empreendedor, olhos de águia e foco em resultados. Se ele for pós-graduado na área de construção civil, tiver passado por construtoras de grande porte e ter experiência em planejamento de obras, orçamento e gestão de equipes, melhor. Se tiver boas referências, melhor ainda. Além de dominar Autocad e Excell, é ideal ter conhecimento no sistema integrado de gestão SAP e experiência em MS Project. "Currículos com a experiência desejada não faltam. O perfil comportamental é mais difícil de ser encontrado, tendo que ser desenvolvido", informa Ricardo Paixão, diretor de Centro de Serviços Compartilhados da MRV, de Belo Horizonte. Para ele, a faculdade oferece fundamentação teórica, mas a prática é imprescindível para um engenheiro de obras obter um bom desempenho.
Justamente com o objetivo de esculpir as habilidades de jovens profissionais, a MRV possui o cargo de engenheiro trainee, que não exige experiência anterior na função. "Avaliamos o desempenho do aluno nas diversas disciplinas", explica. Mas uma coisa é certa: o talento para o canteiro não aparece no processo seletivo. Ele desabrocha na prática e no dia-a-dia. Comprometimento, assertividade e resultados atingidos falam mais alto na decisão final pelo engenheiro que ocupará a vaga. De acordo com Paixão, a carreira de um engenheiro não começa necessariamente pelo canteiro. "É importante que ele tenha conhecimento na área administrativa/planejamento para entender como funciona o processo de construção de uma forma sistêmica e completa", diz. Mas muitos dos selecionados da MRV demonstram grande interesse em carreira em obras. E outros tantos engenheiros experientes em obra não trocam o canteiro por nada. Na MRV, o engenheiro de obras evolui atuando como supervisor de obra e diretor regional.
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| Manoel Ferreira Colchete Junior 32 anos, casado, um filho, engenheiro da Even, no Rio de Janeiro |
Manoel começou na profissão como técnico em estradas e infraestrutura. Mas desde 2001, quando ainda cursava o quarto período da faculdade Engenharia Civil na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), está no canteiro. Começou como estagiário na Servenco Construtora e depois de efetivado continuou em obras. Em 2008, foi para a Even onde trabalha até hoje. "Entrei em canteiro e gostei muito. É uma linha de produção, mas não deixa de ser um serviço extremamente artesanal. Ver o tamanho da realização, o empreendimento pronto, é muito satisfatório", emociona-se. Tocando uma obra com duas torres e comandando 200 pessoas, entre empreiteiros e pessoal da Even, Manoel responde pelo planejamento, elaborando cronogramas e fiscalizando a execução, o gerenciamento e o controle dos orçamentos. É ele quem dá o start da contratação da mão de obra, uma vez que a empresa possui um departamento centralizado para o fechamento dos fornecedores. Celular, rádio e computador são seus principais instrumentos de trabalho. Em dias específicos, vai ao escritório da Even para fazer revisão mensal e controle de custos da obra.
Com o aquecimento do mercado, a velocidade com que são lançados e vendidos os empreendimentos, a falta de mão de obra qualificada e de equipamentos para executar um produto de qualidade, que atenda às expectativas do cliente, em tempo hábil, tem sido um desafio e tanto. "É estressante cumprir os prazos", desabafa Manoel, que reclama das chuvas inesperadas, falta de equipamentos e de mão de obra qualificada. "Consigo lidar bem com pressão e estresse", garante Manoel. Atenção para prever os problemas e dinamismo para resolvê-los ajuda-o a superar os obstáculos. "Existem fases que não há nada para fazer, como no mês de março, que choveu o mês inteiro e estávamos fazendo a fachada", conta.
Hora extrovertido, hora sério, fechado, crítico, o engenheiro busca manter uma relação cordial com os fornecedores, sempre dentro do que é interessante para a empresa. "Tem pessoas que se tornam amigos por convivência, mas não servem para trabalhar", explica. Quando é preciso, o engenheiro tem que exigir. Manoel lida com mão de obra terceirizada. Para cada serviço tem uma empresa trabalhando: estrutura, revestimento, serviços gerais, cerâmica... Ele acompanha a execução desses serviços e realiza reuniões com empreiteiros. "Pela proximidade, acabo tendo relação com o terceirizado, mas ele é um subcontratado. Passo metas e diretrizes para o cumprimento do cronograma", conta.
Para ele, teoria ajuda muito na formação, no entanto, cada empresa tem sua metodologia e suas diferenças. "Na Even, por exemplo, uso o SAP, sistema de gestão avançada, para executar orçamento e compra de qualquer insumo. Ele faz toda a rotina até curva de custo", explica. A empresa o está apoiando no MBA. "Senti necessidade de fazer o curso, saber mais de planejamento e incorporação, que temos pouco em nosso dia-a-dia", diz.
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| José Marcelo Gomes da Silva, 48 anos, casado, três filhos, gerente de obras da Tecnisa, em São Paulo |
Começou em Guaratinguetá (SP), em uma empresa de reformas e construção de caixas eletrônicos, veio para São Paulo, depois para o Rio, ficou nove anos na Edel, de Porto Alegre, até que retornou para a capital paulista, por onde passou pela Wasserman, Max, F. Reis e há três anos está na Tecnisa. José Marcelo conta que acabou no canteiro por indicação. "Toda vez que eu tinha a oportunidade de tirar o pé da obra, alguma coisa me levava a voltar. Foi a condição do mercado, mas tenho muita afinidade", sustenta. E agora com grandes perspectivas de mudança, aguarda a oportunidade de assumir outra função. Quer ser coordenador de obras.
José Marcelo conta já foi um sujeito briguento, que tentava resolver os problemas de obra à força. "Com o tempo aprendi a ser mais calmo, não adianta brigar", abre o jogo. Para ele, seria fundamental ter psicologia como matéria de faculdade, afinal o engenheiro trata com pessoas. E todo mundo deveria fazer terapia, segundo ele, para ajudar a centrar. Hoje faz reuniões e para solucionar as adversidades, mas se é preciso, torna-se enérgico. "Paciência tem limite", afirma. Basicamente, ele faz o planejamento da construção, dimensiona quantas pessoas trabalharão ali, qual o prazo de execução, a logística do canteiro e acompanha desde a compra dos materiais até a produção de cada serviço, além de documentar os procedimentos. Lida com o mestre, o encarregado, o empreiteiro, os engenheiros e treina os estagiários para fazer a conferência. Passa a maior parte do tempo no canteiro, e quando precisa fica no escritório da própria obra até solucionar os contratempos.
Pós-graduado em Tecnologia e Gestão na Produção pela Escola Politécnica da USP, com extensão em gerenciamento da Construção Civil, ISO 9000 e auditoria, ele procura se atualizar sempre. No entanto, foi o tempo e a experiência que o ensinaram a dividir os problemas. "Muitas coisas não dependem da gente. Levo para a coordenação ou para diretoria." Atualmente, José Marcelo trabalha até dez horas por dia e ainda consegue ir a cada 15 dias, nos fins de semana, para Guaratinguetá (SP) para ver a família e o filho de 18 anos que está morando lá. Inevitavelmente, leva atividades para realizar aos sábados em casa. Diz que trabalhou muitos fins de semana em sua carreira.
Agora José Marcelo está em uma dessas etapas complicadas, finalizando um empreendimento com duas torres residenciais e uma comercial, quando prazo e verba estão estourando. Lidera uma equipe de um total de 420 pessoas, sendo 50 funcionários da Tecnisa, e o restante, em torno de 15 empresas, colaboradores subcontratados e fornecedores. Segundo José Marcelo é difícil separar trabalho e família: "Demorei a aprender, não consigo esquecer os problemas. A responsabilidade pesa nos ombros". Porém, quando sai da obra com a cabeça cheia de problemas, chega em casa, encontra os filhos e a esposa e tudo melhora. "A família me ajuda a ter equilíbrio."
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| Lucio Roberto Ferrary Caldas 37 anos, casado, dois filhos, gerente de obras da Goldsztein Cyrela, em Porto Alegre |
Protegido por seu capacete, munido de celular, rádio e o seu nível a laser, seu maior desafio é a melhoria contínua do processo, visando atingir as metas de qualidade e prazos. Com 18 anos de experiência, Lucio acompanha as execuções, verifica se os procedimentos estão sendo feitos de maneira correta, treina profissionais para as novas tecnologias, mostra a forma mais fácil de fazer e, em paralelo, executa o planejamento semanal. Calmo e parceiro, ele se coloca como parte da equipe. "Às vezes tenho que ser mais rígido, mas tento levar com parceria. Faz parte do meu modo de ser", ressalta. Com o tempo, ele aprendeu que a forma de abordagem difere entre os profissionais. "O mestre é mais instruído, então ele participa mais. O operário eu tenho que ensinar, detalhar tudo para o cara entender", explica.
Formado em engenharia civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - com cursos complementares em geotecnia, ISO, gerenciamento de canteiros, perícias e avaliações, MS Project -, iniciou como estagiário em canteiro da Terra Lima Construtora, onde ficou 15 anos e trabalhou também com orçamentação e planejamento. Há três anos está na Goldsztein Cyrela e acredita que para trabalhar em gerenciamento deve começar pelo canteiro. Considera sua vida hoje tranquila. Dois dias por semana vai ao escritório da empresa liberar pedidos de materiais e mão de obra e raramente trabalha nos fins de semana. "Alguns domingos tiro a tarde para revisar o planejamento da semana", ressalva. O seu intuito é crescer na empresa e passar para coordenação técnica.
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| Kelly Kuramochi 35 anos, casada, dois filhos, coordenadora de obra da Método |
Kelly trabalha em torno de dez horas por dia, está disponível nos fins de semana para fiscalizar a obra e, dependendo da empreitada, ainda faz viagens rápidas, conciliando tudo com a condição de mãe. Mesmo com toda a correria, ela procura fazer uma das refeições com os filhos. E, se trabalha no sábado, no domingo fica com eles. "Não é a quantidade, é a qualidade que importa", revela dizendo que eles já gostam de ir para a obra. Hoje, Kelly está locada em uma obra e lidera uma equipe de três engenheiros, um arquiteto, um estagiário, dois administradores e ainda lida com 12 fornecedores. Cuida da produção, do planejamento e do controle; faz a interface com fornecedores e com o cliente; faz uma parte da aquisição, o escopo de serviços a contratar, informes econômicos financeiros, medição das empresas subcontratadas e lida com a equipe de obras.
"Quem é de obra gosta e não quer sair, garante. Kelly nunca teve dificuldade em se impor. "Nunca sofri nenhum tipo de preconceito por ser mulher e mais jovem. Sempre fui respeitada", garante. "Nessa área, acabamos desenvolvendo a negociação com o ser humano, pois nos relacionamos com pedreiros, ajudantes, encarregados, mestre. Temos que negociar com as empresas, com os gerentes, atendendo prazos e negociando valores", relata. Kelly é adepta de um bom diálogo para conseguir que as empresas façam o que ela precisa. Aprendeu tudo isso na prática e com o tempo. "Temos que matar um leão por dia", resume.
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| Joelson de Oliveira Santos 35 anos, casado há quatro meses, gerente de engenharia da Tecnisa, em São Paulo |
Graduado em engenharia civil pela Fesp (Faculdade de Engenharia de São Paulo) com MBA em tecnologia na construção de edifícios pela Escola Politécnica da USP, Joelson começou com apenas 17 anos como estagiário de obra na Tecnisa, onde se formou e se desenvolveu, passando de engenheiro de produção para engenheiro de obra, e em 2004, promovido a gerente de engenharia, que tem o mesmo papel do coordenador de obras. Seu maior desafio como engenheiro de obras foi o último empreendimento, o maior da Tecnisa: dois anos de obras, administrando 800 funcionários, sendo 30 pessoas só da equipe administrativa. "Foi o meu momento, meu sucesso", comemora. Nesse canteiro, o programa de formação de pessoas, Profissionais do Futuro, teve início. "Peguei a mão de obra desqualificada e formei 200 pessoas dentro do canteiro", relembra. Dali para a gerência foi um pulo.
Mas diz que, de cinco anos para cá, o perfil do engenheiro de obras mudou. Antes, para chegar a engenheiro sênior demorava-se em torno de dez anos. Hoje, com o aquecimento, com a rotatividade de profissionais e a escassez de gestores, em dois anos o engenheiro assume um canteiro. No início, Joelson estressava-se mais, mas aprendeu a ser calmo. "Antes, o engenheiro de obra era mais durão, falava mais alto e todos deviam acatar. Hoje, se ele falar mais alto, o funcionário vai embora", explica. Para Joelson, a saída é conquistar a equipe na gestão, ser o mais compreensível, não sendo tolerante. Tem que ser exigente, minucioso, metódico. "Mas não é fácil, a faculdade não ensina técnicas de como lidar com o ser humano", reclama. Segundo ele, é desgastante e árduo ficar no canteiro o dia todo, lidando com mão de obra desqualificada, treinando pessoas, desde estagiário ao operário. A experiência e o coaching da Tecnisa ensinaram-no a lidar com as diferenças.
Hoje, Joelson gerencia seis canteiros e dez engenheiros e diz que resiste às pressões por custo, qualidade e prazo tendo sangue frio. "Os problemas são diários, diferentes de canteiro para canteiro. E muitas vezes não só a experiência ajuda, mas a criatividade para buscar a solução", acredita. No cargo atual, Joelson trabalha de sete a oito horas, mas no início da carreira chegava às 7h00 e ia embora com a equipe. Agora, não fica mais aos sábados no canteiro e só viaja para Sorocaba (SP), onde está gerenciando uma obra. Seu papel é integrar os departamentos de projetos, planejamento e compras. Ele é o professor do canteiro: passa a sua experiência para quem está no campo ao longo da obra. É ele quem garante qualidade, custo, prazo e padronização das obras à empresa. É responsável pelo controle amostral de qualidade e pela fiscalização da obra, percorrendo as torres e os apartamentos. É bem comum avistar Joelson todo alinhado, de terno e gravata, vindo do escritório, para conferir fundação.
Fonte: Revista techné






































