sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dinâmico, flexível, equilibrado e líder, o profissional atual é jovem, forma-se na empresa, tem MBA, ama sujar os pés no barro e ver a obra crescer

O engenheiro de obras é o paizão do canteiro. Amigo de sua equipe, tem ainda jogo de cintura para negociar com os fornecedores e está sempre disposto a ensinar a mão de obra. Mas também está ali para fiscalizar tarefas, cobrar prazos e a qualidade final do produto. Quando a coisa aperta, é rígido. Exige resultados, em nome do cliente e dos acionistas. Vê a obra como um negócio, mas seu maior prazer é transformar o desenho em edifício. Seu uniforme é capacete, camiseta ou blusa de botão, calça jeans e bota. Mas quando vai a reuniões com a diretoria, pode trocar o uniforme por terno e gravata. Empunha um celular e um rádio para se comunicar rapidamente. Traça cronogramas e planilhas no computador pessoal instalado no escritório do canteiro.

Dizem que obra vicia. Quem começa não quer sair. Inicia como estagiário e almeja a coordenação para não tirar o "pé da lama". Com o aquecimento do setor, o giro é maior, e os salários, mais atrativos. No entanto, faltam profissionais disponíveis, por isso as empresas investem cada vez mais na formação e em planos de crescimento. Quer fidelidade, difícil hoje em dia. Famosa por seus planos de carreira e pela ideologia de obra enxuta implantada por Hugo Marques da Rosa, um engenheiro de produção, a Método trata de forma especial seus calouros. O engenheiro de obras jovem da Método entra na empresa como estagiário e começa um longo treinamento para desenvolver o espírito de liderança e a capacidade de gerir pessoas e projetos. Enquanto desenvolve na faculdade conhecimentos de cálculo, estrutura e resistência dos materiais, conhece na prática os limites do que aprendeu. É na empresa que o jovem engenheiro da Método vê a materialização da teo­ria. De estagiário a trainee, agora formado, ele passa a ver a obra como um negócio.
Um profissional em formação
Tradicionalmente, o engenheiro de obras é do sexo masculino, uma vez que nas salas de aula a maioria é composta ainda por homens. Mas hoje é muito comum ver mulheres liderando canteiros. Segundo João Paulo Reis Faleiros Soares, gerente de RH da Método, em São Paulo, "elas são respeitadas e devem ser cada vez mais numerosas". Nos canteiros da Método, encontram-se tanto jovens recém-saídos da faculdade como profissionais experientes que já desenvolveram a prática e o espírito de liderança. Para Soares, "na obra, a energia vale muito, mas experiências também, uma vez que esse profissional administra contratos, negocia com clientes, fornecedores e departamentos internos".

É desejável que sua formação vá além da técnica e do desenho. Para a Método, convém ao engenheiro de obras possuir o certificado em PMP (Project Management Professional), emitido pelo PMI (Project Management Institute), ter um MBA (Master of Business Administration), uma pós-graduação em gestão, conhecimentos em marketing e finanças. "Ele vai administrar um negócio que deve gerar resultado para os acionistas da empresa", lembra Soares. Ele é "o cara" que faz a coisa acontecer, que lida com o fornecedor, que controla prazos, custos e qualidade, que administra os riscos, que põe o pé na lama. Tem que entender de produção e de planejamento, estar atualizado com as novas técnicas construtivas, mas também saber mobilizar a sua equipe. Essa prática e esse traquejo, ele adquire na obra. "Não há escola que ensine uma pessoa a ser dinâmica", comenta Soares.

O engenheiro de obras não é um cara sutil, tampouco um brucutu. É equilibrado, próximo da equipe e dá feedback. Foca-se no desenvolvimento dos integrantes a fim de entregar a obra dentro do prazo, "sem ser um tratorzão", compara Soares. O profissional que trabalha no canteiro da Método enfrenta desafios como tocar obras de grande porte fora dos grandes centros. Por isso, mobilidade, disponibilidade para viajar - para o Nordeste, Angola, ou Dubai - e desprendimento do conforto e da família são inalienáveis. "Tem de ser nômade", ressalta.

O talento para o canteiro de obras é identificado nas entrevistas de recrutamento e nos treinamentos realizados pela construtora, que investe na gestão de desempenho profissional, fornecendo também feedbacks negativos para ajudar no desenvolvimento tanto de quem está começando quanto de quem está há algum tempo na empresa. Apesar de formar os engenheiros que nela trabalham, a Método também valoriza o profissional experiente. "Nos processos seletivos de engenheiros seniores, procuramos conhecer quais resultados ele conseguiu obter, e com qual nível de dificuldade", explica o gerente de RH da construtora. Mas uma coisa é certa, tem que sentir emoção vendo a obra acontecer.
Pronto para tempos difíceis
Um homem de negócios e marketing, que conhece o público com quem está lidando. No perfil desenhado pela Tecnisa, o engenheiro de obras é um cara equilibrado e com espírito de liderança, que otimiza os recursos e a mão de obra, enfrentando tempos difíceis. Para ele, a obra é uma unidade de negócios. A atitude é o que conta para a Tecnisa na contratação do engenheiro de obras. "Treinamos suas habilidades, dando base para as competências", diz Denise Bueno, gerente de RH, em São Paulo. Ciente de que é na prática que o engenheiro adquire experiência, a empresa possui uma política voltada para o desenvolvimento, dispondo de programas para estagiários. Também oferece a escola corporativa, que prepara líderes, e a bolsa educação para os profissionais com dois anos de empresa.

A Tecnisa procura identificar, dentro da própria corporação, o profissional que será um "tocador de obra". "Percebemos, em São Paulo, que quem estuda no Mackenzie, Unip (Universidade Paulista) e Fesp (Faculdade de Engenharia de São Paulo) tem esse perfil", conta. Mas se for contratar um engenheiro formado, é desejável que ele tenha MBA ou pós-graduação, vivência em canteiro e no ambiente que está entrando. Esse profissional vem triado, o RH apenas seleciona. Para saber se ele tem talento, são os 90 dias de expe­riên­cia que vão contar. Também convém que ele esteja atualizado sobre os processos tecnológicos que aceleram a construção. A decisão por um engenheiro júnior ou sênior vai depender do porte da obra. De uma a duas torres, pode ser escalado um engenheiro mais novo. Se o empreendimento for maior, opta-se pelo sênior, com mais experiência. O salário médio de um engenheiro pleno júnior é de R$ 6 mil.

Com o aquecimento do mercado, segundo Bueno, sexo e idade já eram para a Tecnisa. A mulher está cada vez mais presente nas obras, e logo se percebe o seu toque: "É um canteiro mais organizado, e os funcionários a respeitam". O mito de que engenheiro não gosta de canteiro foi enterrado de vez. Segundo Bueno, os recrutamentos para seis canteiros apresentaram quantidade razoável de interessados. E os que gostam do canteiro, certamente seguem para a coordenação e a diretoria técnica.
Muito jogo de cintura
Profissionais pró-ativos e flexíveis, que saibam lidar com as adversidades da construção, tenham habilidade em gerir pessoas, custos e prazos e sejam focados em padrões de qualidade - isso poderia ser um anúncio da Even para contratar engenheiros. Sexo e idade não importam. "O que conta é a experiência e a disponibilidade da pessoa. O tempo de experiência depende da complexidade da obra", ressalta Anabela Pereira Félix Linhares, analista de Recursos Humanos da Even, no Rio de Janeiro. O profissional de canteiro precisa ter jogo de cintura para resolver problemas em seu dia-a-dia, como atrasos nas entregas de mercadorias e orçamentos, sempre tendo em mente as expectativas do cliente quanto a prazos e qualidade, que deve ser impecável e corresponder ao que ele adquiriu em planta. Por isso, é um sujeito mais agressivo, com comportamento pró-ativo e imediatista. A experiência, segundo Linhares, o engenheiro adquire principalmente fazendo estágio. Para quem quer atuar em obras, afirma, "é imprescindível que inicie no canteiro de obras. Os trabalhos administrativos vão aparecer como consequência".

Na seleção para engenheiro de obras, a Even, que oferece salário de R$ 4.000,00 para quem está começando, exige experiência em edificação, estágio, noções de informática, cálculo e que esteja antenado às novas tecnologias da construção civil. Se ele é de canteiro ou não, Linhares identifica quando percebe que o profissional gosta do que faz e sente prazer em atuar em obras. No Rio de Janeiro, é comum o engenheiro fazer carreira no canteiro: "Os cariocas não conseguem se imaginar sentados na frente do computador todos os dias. Eles gostam de obra, desenvolvem-se rapidamente e conti­nuam a atuar no canteiro, como gerentes de obra e não mais como engenheiro residente", conta Linhares. No entanto, apesar de tantos quesitos e de a carreira estar atrativa para o engenheiro civil, Linhares conta que, com o aquecimento do mercado, a demanda aumentou e, atualmente, está difícil encontrar esse profissional.
Custos e negócios
O engenheiro de obras da Goldsztein Cyrela é formado em negócios e entende de custos. Mede e avalia os resultados dos empreendimentos por indicadores. "Ele não é mais focado em concreto, ferro e aço", diz Rogério Raabe, diretor de obras da Goldsztein Cyrela, em Porto Alegre.
A empresa espera dele disciplina, liderança, comprometimento com a entrega do empreendimento e familiaridade com a gestão de negócios. "Ele não pode perder dinheiro. Deve ter domínio sobre a mão de obra, visando à produtividade", acrescenta. O perfil procurado pela Goldsztein Cyrela é de um especialista na formação da mão de obra, um treinador de novos treinadores, um agregador de equipes.

Para a empresa, experiência conta, mas não pesa tanto. Segundo Raabe, o engenheiro mais velho tem vícios e cacoetes que podem atrapalhar. O mais importante é que o profissional esteja apto a buscar desafio e que possua as habilidades desejadas, que podem já estar em seu "DNA" ou serem desenvolvidas em treinamento. Ele deve ter um perfil desafiador uma vez que todo dia tem uma montanha de problemas para resolver. "O que não podemos é ter um engenheiro com cara de chuchu", brinca. Com o objetivo de forma(ta)r esse profissional, segundo as melhores práticas, alinhando-o à cultura da empresa, a Goldsztein Cyrela dispõe de programas de estágio e trainee, além da Academia Cyrela, que financia cursos de MBA. Com o mercado aquecido e a alta rotatividade de profissionais, está cada vez mais difícil achar "esse" engenheiro ideal. Para reter seu capital humano, a Goldsztein Cyrela possui planos de carreira e oferece bonificação anual, de acordo com a sua produtividade. "Quanto mais ele se agrega à estrutura da empresa e se torna mais capacitado, deixa de migrar e aumentam as condições de ele crescer aqui dentro", conclui.
Planejador com espírito empreendedor
Trabalhar sob pressão, correr contra o tempo, reduzir custos e garantir qualidade são os principais desafios vivenciados no cotidiano do engenheiro de obras da MRV. Líder, ético e responsável, esse profissional relaciona-se bem, tem espírito empreendedor, olhos de águia e foco em resultados. Se ele for pós-graduado na área de construção civil, tiver passado por construtoras de grande porte e ter experiência em planejamento de obras, orçamento e gestão de equipes, melhor. Se tiver boas referências, melhor ainda. Além de dominar Autocad e Excell, é ideal ter conhecimento no sistema integrado de gestão SAP e experiência em MS Project. "Currículos com a experiência desejada não faltam. O perfil comportamental é mais difícil de ser encontrado, tendo que ser desenvolvido", informa Ricardo Paixão, diretor de Centro de Serviços Compartilhados da MRV, de Belo Horizonte. Para ele, a faculdade oferece fundamentação teórica, mas a prática é imprescindível para um engenheiro de obras obter um bom desempenho.

Justamente com o objetivo de esculpir as habilidades de jovens profissionais, a MRV possui o cargo de engenheiro trainee, que não exige experiên­cia anterior na função. "Avaliamos o desempenho do aluno nas diversas disciplinas", explica. Mas uma coisa é certa: o talento para o canteiro não aparece no processo seletivo. Ele desabrocha na prática e no dia-a-dia. Comprometimento, assertividade e resultados atingidos falam mais alto na decisão final pelo engenheiro que ocupará a vaga. De acordo com Paixão, a carreira de um engenheiro não começa necessariamente pelo canteiro. "É importante que ele tenha conhecimento na área administrativa/planejamento para entender como funciona o processo de construção de uma forma sistêmica e completa", diz. Mas muitos dos selecionados da MRV demonstram grande interesse em carreira em obras. E outros tantos engenheiros experientes em obra não trocam o canteiro por nada. Na MRV, o engenheiro de obras evolui atuando como supervisor de obra e diretor regional.
Marcelo Scandaroli
Manoel Ferreira Colchete Junior 32 anos, casado, um filho, engenheiro da Even, no Rio de Janeiro
Anda complicado Manoel conciliar carreira e família com a vida que leva hoje, trabalhando, no mínimo, em torno de 12 horas por dia, e ainda cursando MBA em Gestão de Negócios Imobiliários e da Construção Civil. Nem mesmo o sábado sobra para curtir o filho de dois anos, que vai ter que esperar até o pai se tornar gerente. Preservar as roupas de trabalho e andar alinhado, então, é uma tarefa quase impossível para Manoel. Haja camisas. Serpenteando entre colunas, vigas, paredes e lajes em construção, já perdeu seis blusas no prego de gabarito. Agora, só de uniforme da Even.

Manoel começou na profissão como técnico em estradas e infraestrutura. Mas desde 2001, quando ainda cursava o quarto período da faculdade Engenharia Civil na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), está no canteiro. Começou como estagiário na Servenco Construtora e depois de efetivado continuou em obras. Em 2008, foi para a Even onde trabalha até hoje. "Entrei em canteiro e gostei muito. É uma linha de produção, mas não deixa de ser um serviço extremamente artesanal. Ver o tamanho da realização, o empreendimento pronto, é muito satisfatório", emociona-se. Tocando uma obra com duas torres e comandando 200 pessoas, entre empreiteiros e pessoal da Even, Manoel responde pelo planejamento, elaborando cronogramas e fiscalizando a execução, o gerenciamento e o controle dos orçamentos. É ele quem dá o start da contratação da mão de obra, uma vez que a empresa possui um departamento centralizado para o fechamento dos fornecedores. Celular, rádio e computador são seus principais instrumentos de trabalho. Em dias específicos, vai ao escritório da Even para fazer revisão mensal e controle de custos da obra.

Com o aquecimento do mercado, a velocidade com que são lançados e vendidos os empreendimentos, a falta de mão de obra qualificada e de equipamentos para executar um produto de qualidade, que atenda às expectativas do cliente, em tempo hábil, tem sido um desafio e tanto. "É estressante cumprir os prazos", desabafa Manoel, que reclama das chuvas inesperadas, falta de equipamentos e de mão de obra qualificada. "Consigo lidar bem com pressão e estresse", garante Manoel. Atenção para prever os problemas e dinamismo para resolvê-los ajuda-o a superar os obstáculos. "Existem fases que não há nada para fazer, como no mês de março, que choveu o mês inteiro e estávamos fazendo a fachada", conta.

Hora extrovertido, hora sério, fechado, crítico, o engenheiro busca manter uma relação cordial com os fornecedores, sempre dentro do que é interessante para a empresa. "Tem pessoas que se tornam amigos por convivência, mas não servem para trabalhar", explica. Quando é preciso, o engenheiro tem que exigir. Manoel lida com mão de obra terceirizada. Para cada serviço tem uma empresa trabalhando: estrutura, revestimento, serviços gerais, cerâmica... Ele acompanha a execução desses serviços e realiza reuniões com empreiteiros. "Pela proximidade, acabo tendo relação com o terceirizado, mas ele é um subcontratado. Passo metas e diretrizes para o cumprimento do cronograma", conta.

Para ele, teoria ajuda muito na formação, no entanto, cada empresa tem sua metodologia e suas diferenças. "Na Even, por exemplo, uso o SAP, sistema de gestão avançada, para executar orçamento e compra de qualquer insumo. Ele faz toda a rotina até curva de custo", explica. A empresa o está apoiando no MBA. "Senti necessidade de fazer o curso, saber mais de planejamento e incorporação, que temos pouco em nosso dia-a-dia", diz.
Marcelo Scandaroli
José Marcelo Gomes da Silva, 48 anos, casado, três filhos, gerente de obras da Tecnisa, em São Paulo
"Eu que fiz", diz José Marcelo para si mesmo, orgulhoso, ao ver um empreendimento pronto realizado sob o seu comando. Formado há 25 anos pela Faculdade de Engenharia Civil de Itajubá, em Minas Gerais, e há 15 no canteiro, confessa que, mesmo sendo uma profissão sofrida, o seu maior prazer é ver a obra caminhando: "Demolir, implantar, escavar, erguer a estrutura - é muito emocionante", confessa José Marcelo.

Começou em Guaratinguetá (SP), em uma empresa de reformas e construção de caixas eletrônicos, veio para São Paulo, depois para o Rio, ficou nove anos na Edel, de Porto Alegre, até que retornou para a capital paulista, por onde passou pela Wasserman, Max, F. Reis e há três anos está na Tecnisa. José Marcelo conta que acabou no canteiro por indicação. "Toda vez que eu tinha a oportunidade de tirar o pé da obra, alguma coisa me levava a voltar. Foi a condição do mercado, mas tenho muita afinidade", sustenta. E agora com grandes perspectivas de mudança, aguarda a oportunidade de assumir outra função. Quer ser coordenador de obras.

José Marcelo conta já foi um sujeito briguento, que tentava resolver os problemas de obra à força. "Com o tempo aprendi a ser mais calmo, não adianta brigar", abre o jogo. Para ele, seria fundamental ter psicologia como matéria de faculdade, afinal o engenheiro trata com pessoas. E todo mundo deveria fazer terapia, segundo ele, para ajudar a centrar. Hoje faz reuniões e para solucionar as adversidades, mas se é preciso, torna-se enérgico. "Paciência tem limite", afirma. Basicamente, ele faz o planejamento da construção, dimensiona quantas pessoas trabalharão ali, qual o prazo de execução, a logística do canteiro e acompanha desde a compra dos materiais até a produção de cada serviço, além de documentar os procedimentos. Lida com o mestre, o encarregado, o empreiteiro, os engenheiros e treina os estagiários para fazer a conferência. Passa a maior parte do tempo no canteiro, e quando precisa fica no escritório da própria obra até solucionar os contratempos.

Pós-graduado em Tecnologia e Gestão na Produção pela Escola Politécnica da USP, com extensão em gerenciamento da Construção Civil, ISO 9000 e auditoria, ele procura se atualizar sempre. No entanto, foi o tempo e a experiência que o ensinaram a dividir os problemas. "Muitas coisas não dependem da gente. Levo para a coordenação ou para diretoria." Atualmente, José Marcelo trabalha até dez horas por dia e ainda consegue ir a cada 15 dias, nos fins de semana, para Guaratinguetá (SP) para ver a família e o filho de 18 anos que está morando lá. Inevitavelmente, leva atividades para realizar aos sábados em casa. Diz que trabalhou muitos fins de semana em sua carreira.

Agora José Marcelo está em uma dessas etapas complicadas, finalizando um empreendimento com duas torres residenciais e uma comercial, quando prazo e verba estão estourando. Lidera uma equipe de um total de 420 pessoas, sendo 50 funcionários da Tecnisa, e o restante, em torno de 15 empresas, colaboradores subcontratados   e fornecedores. Segundo José Marcelo é difícil separar trabalho e família: "Demorei a aprender, não consigo esquecer os problemas. A responsabilidade pesa nos ombros". Porém, quando sai da obra com a cabeça cheia de problemas, chega em casa, encontra os filhos e a esposa e tudo melhora. "A família me ajuda a  ter equilíbrio."
Divulgação: Goldsztein Cyrela
Lucio Roberto Ferrary Caldas 37 anos, casado, dois filhos, gerente de obras da Goldsztein Cyrela, em Porto Alegre
Do joelho para baixo, a calça jeans de Lucio geralmente está suja de concreto, afinal ele passa entre oito e nove horas por dia percorrendo os 19 mil m2 do canteiro que está gerenciando. Trata-se de um condomínio horizontal com 168 residências, onde lidera uma equipe composta por mestre, contramestre, administrador, estagiário, técnico de segurança e colaboradores de  15 empreiteiras.


Protegido por seu capacete, munido de celular, rádio e o seu nível a laser, seu maior desafio é a melhoria contínua do processo, visando atingir as metas de qualidade e prazos. Com 18 anos de experiência, Lucio acompanha as execuções, verifica se os procedimentos estão sendo feitos de maneira correta, treina profissionais para as novas tecnologias, mostra a forma mais fácil de fazer e, em paralelo, executa o planejamento semanal. Calmo e parceiro, ele se coloca como parte da equipe. "Às vezes tenho que ser mais rígido, mas tento levar com parceria. Faz parte do meu modo de ser", ressalta. Com o tempo, ele aprendeu que a forma de abordagem difere entre os profissionais. "O mestre é mais instruído, então ele participa mais. O operário eu tenho que ensinar, detalhar tudo para o cara entender", explica.

Formado em engenharia civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - com cursos complementares em geotecnia, ISO, gerenciamento de canteiros, perícias e avaliações, MS Project -,  iniciou como estagiário em canteiro da Terra Lima Construtora, onde ficou 15 anos e trabalhou também com orçamentação e planejamento. Há três anos está na Goldsztein Cyrela e acredita que para trabalhar em gerenciamento deve começar pelo canteiro. Considera sua vida hoje tranquila. Dois dias por semana vai ao escritório da empresa liberar pedidos de materiais e mão de obra e raramente trabalha nos fins de semana. "Alguns domingos tiro a tarde para revisar o planejamento da semana", ressalva. O seu intuito é crescer na empresa e passar para coordenação técnica.
Fotos: Marcelo Scandaroli
Kelly Kuramochi 35 anos, casada, dois filhos, coordenadora de obra da Método
Kelly é um exemplo de engenheira que gosta de obras. Chegou à coordenação e pretende chegar à gerência de projetos. Formada em engenharia civil pelo Instituto Mauá de Tecnologia (SP) e em direito pela Universidade Paulista, ela iniciou em uma empresa pequena fazendo levantamento quantitativo e orçamento. Com 19 anos, foi aprovada no processo seletivo da Método e entrou como estagiária da área de orçamento, passou para planejamento e concluiu o estágio em obra. Nesse meio tempo, obteve a certificação PMI pela Método, fez curso de gerenciamento de projetos na Escola Politécnica da USP e pós-graduação em administração.

Kelly trabalha em torno de dez horas por dia, está disponível nos fins de semana para fiscalizar a obra e, dependendo da empreitada, ainda faz viagens rápidas, conciliando tudo com a condição de mãe. Mesmo com toda a correria, ela procura fazer uma das refeições com os filhos. E, se trabalha no sábado, no domingo fica com eles. "Não é a quantidade, é a qualidade que importa", revela dizendo que eles já gostam de ir para a obra. Hoje, Kelly está locada em uma obra e lidera uma equipe de três engenheiros, um arquiteto, um estagiário, dois administradores e ainda lida com 12 fornecedores. Cuida da produção, do planejamento e do controle; faz a interface com fornecedores e com o cliente; faz uma parte da aquisição, o escopo de serviços a contratar, informes econômicos financeiros, medição das empresas subcontratadas e lida com a equipe de obras.

"Quem é de obra gosta e não quer sair, garante. Kelly nunca teve dificuldade em se impor. "Nunca sofri nenhum tipo de preconceito por ser mulher e mais jovem. Sempre fui respeitada", garante. "Nessa área, acabamos desenvolvendo a negociação com o ser humano, pois nos relacionamos com pedreiros, ajudantes, encarregados, mestre. Temos que negociar com as empresas, com os gerentes, atendendo prazos e negociando valores", relata. Kelly é adepta de um bom diálogo para conseguir que as empresas façam o que ela precisa. Aprendeu tudo isso na prática e com o tempo. "Temos que matar um leão por dia", resume.
Fotos: Marcelo Scandaroli
Joelson de Oliveira Santos 35 anos, casado há quatro meses, gerente de engenharia da Tecnisa, em São Paulo
"Canteiro, ou você odeia ou fica apaixonado", afirma Joelson que direcionou sua carreira para obras. Segundo ele, o ambiente é hostil: "Quando está calor é muito quente; quando está frio, é muito frio.

Graduado em engenharia civil pela Fesp (Faculdade de Engenharia de São Paulo) com MBA em tecnologia na construção de edifícios pela Escola Politécnica da USP, Joelson começou com apenas 17 anos como estagiário de obra na Tecnisa, onde se formou e se desenvolveu, passando de engenheiro de produção para engenheiro de obra, e em 2004, promovido a gerente de engenharia, que tem o mesmo papel do coordenador de obras. Seu maior desafio como engenheiro de obras foi o último empreendimento, o maior da Tecnisa: dois anos de obras, administrando 800 funcionários, sendo 30 pessoas só da equipe administrativa. "Foi o meu momento, meu sucesso", comemora. Nesse canteiro, o programa de formação de pessoas, Profissionais do Futuro, teve início. "Peguei a mão de obra desqualificada e formei 200 pessoas dentro do canteiro", relembra. Dali para a gerência foi um pulo.

Mas diz que, de cinco anos para cá, o perfil do engenheiro de obras mudou. Antes, para chegar a engenheiro sênior demorava-se em torno de dez anos. Hoje, com o aquecimento, com a rotatividade de profissionais e a escassez de gestores, em dois anos o engenheiro assume um canteiro. No início, Joelson estressava-se mais, mas aprendeu a ser calmo. "Antes, o engenheiro de obra era mais durão, falava mais alto e todos deviam acatar. Hoje, se ele falar mais alto, o funcionário vai embora", explica. Para Joelson, a saída é conquistar a equipe na gestão, ser o mais compreensível, não sendo tolerante. Tem que ser exigente, minucioso, metódico. "Mas não é fácil, a faculdade não ensina técnicas de como lidar com o ser humano", reclama. Segundo ele, é desgastante e árduo ficar no canteiro o dia todo, lidando com mão de obra desqualificada, treinando pessoas, desde estagiário ao operário. A experiência e o coaching da Tecnisa ensinaram-no a lidar com as diferenças.

Hoje, Joelson gerencia seis canteiros e dez engenheiros e diz que resiste às pressões por custo, qualidade e prazo tendo sangue frio. "Os problemas são diários, diferentes de canteiro para canteiro. E muitas vezes não só a experiência ajuda, mas a criatividade para buscar a solução", acredita. No cargo atual, Joelson trabalha de sete a oito horas, mas no início da carreira chegava às 7h00 e ia embora com a equipe. Agora, não fica mais aos sábados no canteiro e só viaja para Sorocaba (SP), onde está gerenciando uma obra. Seu papel é integrar os departamentos de projetos, planejamento e compras. Ele é o professor do canteiro: passa a sua experiência para quem está no campo ao longo da obra. É ele quem garante qualidade, custo, prazo e padronização das obras à empresa. É responsável pelo controle amostral de qualidade e pela fiscalização da obra, percorrendo as torres e os apartamentos. É bem comum avistar Joelson todo alinhado, de terno e gravata, vindo do escritório, para conferir fundação.

Fonte: Revista techné

AsBEA trabalha no desenvolvimento de Código de Obras NacionalAsBEA trabalha no desenvolvimento de Código de Obras Nacional

Projeto propõe a padronização de construções, dividida por oito regiões bioclimáticas. Plano está baseado em desempenho, sustentabilidade e responsabilidade profissional


Mauricio Lima

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Falta de investimento atrasa o desenvolvimento do código
A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA) está desenvolvendo o projeto do Código de Obras Nacional, com o objetivo de padronizar as obras no País. Segundo o coordenador do grupo de trabalho da AsBEA e sócio-titular da Uniarq, Luiz Frederico Rangel, o projeto vem de uma demanda do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) de facilitar os trabalhos de construtoras. O projeto faz parte do Programa de Inovação Tecnológica (PIT), desenvolvido pela CBIC. A intenção é que a construção se torne industrializada e sistematizada, diferentemente do que ocorre atualmente, quando os municípios têm códigos individuais e diferenciados. Rangel já discute a possibilidade de mudar o nome do código para Código de Edificações Nacional, tornando-o mais específico
O projeto do código é baseado em um trinômio formado por normas de desempenho, sustentabilidade e responsabilidade profissional. Segundo Rangel, é necessário que o código estabeleça as responsabilidades de forma clara, a fim de evitar problemas futuros em caso de mau-funcionamento da obra.
Como o Brasil é um país com regiões muito distintas, o código dividirá o território em oito regiões bioclimáticas e socioculturais, que terão especificações diferentes. "Uma obra no Rio Grande do Sul não tem o mesmo desempenho que a mesma obra no Rio Grande do Norte", destacou Rangel. Mas, segundo ele, existem aspectos que podem e devem ser padronizados, como as terminologias utilizadas no setor, por exemplo.
Para a viabilização do projeto, ainda faltam investimentos. "Seria importante o patrocínio de empresas da indústria imobiliária para que o projeto fosse concluído de forma mais rápida, pois está sendo feito sem nenhum incentivo", disse Rangel. De acordo com ele, o processo de desenvolvimento está ocorrendo de forma mais lenta, já que o trabalho está sendo realizado fora do horário de trabalho e sem aporte financeiro para a contratação de consultorias. Não há previsão para o término do projeto
Em tese, a formulação de um código nacional facilitaria também o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), do Governo Federal, por substituir milhares de códigos municipais. Com isso, as construtoras ligadas ao programa poderiam utilizar os projetos em várias cidades, sem ter de adequar as obras a cada código. O projeto deverá propor também uma hierarquização dos municípios, de modo a facilitar as liberações de obras.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Ponte Donghai

A Ponte de Donghai, em português, Ponte do Mar Oriental, situa-se na República Popular da China e liga o novo porto da cidade de Xangai, Luchaogang, às ilhas Yangshan, onde está em construção um gigantesco porto de águas profundas.
É a segunda maior ponte do mundo sobre o mar, medindo 31,5 km no total, dos quais 24,6 quilômetros sobre as águas.

Mar com profundidade de 5 a 10 metros, assolado por ventos fortes e ondas de 6 metros, e com uma variação de 5 metros entre marés, foram apenas algumas das dificuldades com que a execução de um projeto desta envergadura se defrontava. O os técnicos consideravam que haveria apenas a possibilidade de trabalhar no exterior em 180 dias por ano, apontando para um tempo de construção de sete a oito anos.


Iniciada a 26 de Junho de 2002, a estrutura em si seria acabada em 26 de Maio de 2005, menos de três anos após o seu início, estabelecendo um recorde de rapidez na construção, apesar dos ventos, marés e furacões que se abateram sobre o local dos trabalhos. Os acabamentos, que consistiram na asfaltagem e instalação de equipamentos de sinalização e de segurança, foram concluídos em seis meses.
Apenas três anos e meio depois de ter sido iniciada, a ponte seria inaugurada no dia 1 de Dezembro de 2005.

6 000 operários, engenheiros e técnicos, remunerados muito acima da média chinesa, com horários de 12 horas de trabalho e habitando na própria ponte à medida que ela ia sendo construída, contribuíram sem dúvida para este "milagre", ao qual não terá também sido alheia a organização perfeita e a adequada gestão de toda esta mão de obra.


Ficha técnica

Comprimento total : 31,5 km ( em três seções: aproximação sul 2,4 km + 24,6 km sobre o mar + 4,5 km de ligação às ilhas).
Largura da via : 31,5 m ( 33 metros nas pontes suspensas ).
Vias de tráfego : 6 vias de circulação + 2 vias laterais de emergência.
Pilares : 670 séries espaçadas de 50 m + 2 torres.
Tabuleiro : 670 seções pesando cada um 1 600 toneladas colocados com uma margem de erro máxima de apenas 5 mm. Foram necessárias 100 000 toneladas de asfalto para o revestimento.
Ponte suspensa principal : comprimento de 420 m, altura das torres de 159 m e altura do tabuleiro acima das águas de 40 m (possibilitando assim a passagem de navios de qualquer porte).
Custo total: 1,1 bilhão de euros.

Texto retirado deste Link.

Veja outras fotos da ponte em: http://www.stephanecompoint.com/11,465.html

sábado, 17 de julho de 2010

Estádio de Brasília é inspirado em Niemeyer

Estádio Nacional de Brasília terá capacidade para 71 mil pessoas.
Dando continuidade à nossa série sobre a Copa do Mundo de 2014, o Massa Cinzenta traz a você o projeto para o Estádio Nacional de Brasília, na capital federal do país. Hoje chamado de Estádio Mané Garrincha, a sede brasiliense para a Copa de 2014 será totalmente reformada e foi projetada pela Castro Mello Arquitetos – que há três gerações está envolvida em construções esportivas.
Analisado como um dos estádios mais caros da Copa de 2014, o Estádio Nacional de Brasília será executado pelas construtoras Andrade Gutierrez e Via Engenharia, que venceram a licitação com o preço de R$ 696 milhões. Com capacidade para 71 mil pessoas, é um forte candidato a sediar a abertura da Copa do Mundo.
Nossa proposta para o estádio traduz a filosofia de Oscar Niemeyer e respeita a imagem de Brasília"
O Estádio Mané Garrincha foi projetado em 1974 por Ícaro de Castro Mello e sua reformulação e transformação em Estádio Nacional de Brasília está a cargo do filho do arquiteto original, Eduardo de Castro Mello. Sua localização fica junto ao Eixo Monumental de Brasília, no espaço denominado como Centro Esportivo Ayrton Senna. “Nossa proposta para o novo estádio traduz a filosofia arquitetônica e respeita a imagem já consolidada de Brasília, que foi projetada por Niemeyer”, explica o arquiteto.
A preocupação dos arquitetos com um projeto visualmente agradável se justifica pela vizinhança: além de Brasília ter sido projetada pelo ícone da arquitetura, Oscar Niemeyer, o Eixo Monumental é onde se concentram as obras mais importantes do arquiteto. “Nós devemos apresentar uma solução que dialogasse com as obras de arte vizinhas”, afirma.
Mudanças estruturais
O projeto da Castro Mello envolve o rebaixamento do campo e a modernização de todo o espaço. “No novo estádio, a pista de atletismo desaparece, o campo de jogo é rebaixado em 4,50 metros e a arquibancada inferior se aproxima das linhas laterais e de fundo de campo”, revela Castro Mello.
Visão da arquibancada do Estádio Nacional de Brasília.
Outra preocupação dos projetistas é a iluminação natural: a porcentagem de vidro é maior nas partes mais internas da cobertura, permitindo uma maior iluminação solar diretamente no gramado. Por mais que os espectadores estejam na sombra, os raios solares podem atrapalhar a visão do jogo. Para evitar este problema, a cobertura possui uma segunda membrana semitransparente, que difunde os raios solares mantendo a claridade sem incidência direta.
O Estádio Nacional de Brasília não foi projetado apenas para a Copa de 2014. “Existe uma proposta de cobertura retrátil para a parte central do estádio, que terá grande utilidade para a realização de shows artísticos”, afirma o arquiteto. “Afinal o desejo é que seja uma arena multiuso, mesmo após a Copa”. Apesar da retirada da pista de atletismo, o Estádio de Brasília será utilizado para shows e outros eventos, como as Olimpíadas de 2016.
Seguindo o conceito de EcoArena – que todos os estádios da Copa no Brasil devem seguir – o Estádio de Brasília irá reaproveitar a água da chuva para irrigar o campo e também utilizará energia solar fotovoltaica. “Ao se instalarem 13 mil metros quadrados de painéis fotovoltaicos o estádio poderá ser a primeira Arena Energia-Zero do mundo”, revela Castro Mello.
Conheça melhor o projeto
Depois de certa demora no processo de licitação, o Estádio Nacional de Brasília já está sendo erguido no lugar do Mané Garrincha. A previsão de conclusão é em dezembro de 2012, para que esteja apto a receber a Copa das Confederações em 2013. “Com esta estrutura, Brasília pretende sediar o jogo de abertura da Copa de 2014 e também participar da Copa das Confederações. Para isso, é necessário que o estádio esteja finalizado, no máximo, em dezembro de 2012”, explica Castro Mello.
Para agilizar o processo de construção, parte do estádio será erguida com estruturas pré-moldadas. “Os painéis de sustentação e o anel de compressão da cobertura serão em concreto moldado in loco. Já as arquibancadas e lajes serão pré-moldadas, pois são os sistemas mais indicados e representam o melhor custo-benefício”. Eduardo Castro Mello justifica ainda o uso do pré-moldado pelas características do projeto: em um estádio as peças se repetem com regularidade. Além disso, existe um prazo máximo para a conclusão da obra e o concreto pré-moldado ajuda a diminuir o tempo da construção.
Durante a obra serão utilizados:
- 129.279 m³ de concreto (sendo 69.219 m³ para as arquibancadas e 60.150 m³ para as estruturas da esplanada, rampas, pontes e colunas e anel de compressão);
- 14.627.080 kg de aço CA-50 para concreto armado;
- 431.375 m² de formas de compensado;
- 1.300.000 m³ de cimbramentos metálicos tubulares;
- 24.660 tirantes e
- 416.573 kg de aço para estruturas metálicas secundárias.
Entrevistado:
Eduardo de Castro Mello
Currículo:
Arquiteto e consultor em arquitetura esportiva. Desde 1970 projeta construções esportivas no Brasil e no exterior. É membro da Associação Internacional para Instalações Desportivas e Recreativas (IAKS), com sede em Colônia, na Alemanha, e, hoje, está à frente do escritório Castro Mello Arquitetura Esportiva.

FONTE: Cimento Itambé

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sustentabilidade high tech

Extravagantes, edifícios como os de Dubai e China tentam provar que são sustentáveis. Por isso, transformaram-se em grandes geradores eólicos e captadores fotovoltaicos. Mas isso é viável?


Nos parques de diversões da arquitetura contemporânea, a corrida tecnológica flerta agora o discurso ecológico. Turbinas eólicas incorporadas em arranha-céus em Bahrain, grandes painéis fotovoltaicos em Dubai, sistemas geotérmicos na China e imensas coberturas vivas na Califórnia vão bem além das exigências de certificações ambientais. Mas quanto esses recursos podem de fato contribuir para melhorar a eficiência das edificações - e mais, o quão próximo da realidade esses sonhos nas alturas chegam?
Os fortes ventos trocados entre o Golfo Pérsico e o deserto levaram a uma escolha óbvia em países da Península Arábica: turbinas eólicas incorporadas na edificação. "No caso de arranha-céus, pode haver um potencial de aproveitamento. Estamos falando de mais de 100 m de altura, onde a velocidade do vento tende a ser mais alta do que no solo", diz o engenheiro Fernando Westphal, gerente de eficiência energética do Centro de Tecnologia de Edificações.
Desde abril de 2008 três turbinas unidirecionais de 29 m de diâmetro giram entre as duas torres gêmeas de 240 m de altura e em forma de vela do Bahrain World Trade Center, criado pelo escritório britânico Atkins. O objetivo é que a brisa do Golfo Pérsico suprisse até 15% da energia consumida pelo prédio. Isso representaria 1,3 mil MWh por ano, suficientes para iluminar 300 casas e deixar de emitir 55 t de carbono anuais.
Segundo a Atkins, o custo de até 30% do valor do projeto tornaria inviável a integração de turbinas de larga escala, tanto por conta da adaptação do projeto do prédio quanto das pesquisas de turbinas especiais. A solução foi usar turbinas convencionais sustentadas cada uma por um eixo horizontal de 50 t.
A solução não foi a ideal - melhor seria que tivessem eixo vertical. "As turbinas eólicas de eixo vertical têm a vantagem da facilidade de manutenção, normalmente funcionam com vento vindo de todas as direções, sem a necessidade de possuírem mecanismos como leme para colocarem as pás na direção dos ventos", diz a professora Eliane Fadigas, do Departamento de Engenharia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Mas o balde de realismo no deserto de fantasias fez com que sua incorporação custasse menos de 3% do projeto, segundo o escritório.
Para resolver o fato de a turbina ser fixa, a Atkins projetou para as torres um perfil elíptico que afunila o vento. Testes em túnel de vento mostraram que o desenho não apenas forma pressão negativa na parte de trás do prédio, o que acelera o vento entre as torres em até 30%, como também o desvia num percurso em formato de "S" cujo centro permanece quase perpendicular à turbina dentro de um azimute de 45º.
Embora a idéia do BWTC tenha sido diminuir a dependência de reservas energéticas fósseis num clima desértico, seu projeto não tem estratégias de baixa emissão de carbono dos padrões europeus.
Caro demais para o Brasil? Por enquanto, sim. Embora algumas regiões brasileiras como o litoral do Nordeste e o Rio Grande do Sul tenham um potencial eólico grande, "o preço da eletricidade praticada no Brasil em todos os setores consumidores faz ainda inviável economicamente a instalação tanto da tecnologia fotovoltaica quanto eólica em edificações nas áreas urbanas", diz Eliane.
Mas, segundo Westphal, não faltam recursos e razões para investidores bancarem essas tecnologias em empreendimentos de alto nível. "Certamente, o investidor vai tirar proveito como uma estratégia de marketing, mas a sociedade vai sair ganhando com o alívio proporcionado ao parque gerador de energia, o que diminui os impactos ambientais. Esse alívio pode ser ínfimo, se pensarmos em um ou dez prédios. Mas se a tecnologia for disseminada, o custo tende a baixar, mais empreendimentos passam a adquirir o sistema e aí começamos a ter benefícios significativos para todos."
Tecnologia dez, emissões zero
A China, onde ficam 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo, está correndo atrás para não sobrar como a vilã ecológica do século 21. Além de construções com certificação Leed do Green Building Council na Vila Olímpica de Pequim e da ecocidade Dongtan, em construção para servir de modelo de sustentabilidade na Expo-Xangai de 2010, está previsto para esse mesmo ano o primeiro arranha-céu com emissão zero de carbono do país - e do mundo. A americana Skidmore Owings & Merrill espera que o vento e o sol sejam capazes de abastecer toda a energia consumida pelo prédio projetado para a Guangdong Tobacco, em Cantão, iniciado em 2006.
Com as estratégias de redução e absorção de energia, o prédio deve consumir 65% menos que o previsto pelas leis chinesas.
Nas orientações Norte e Sul foi feito duplo fechamento em vidro low-E, com ventilação entre as duas lâminas, e instalada persiana automatizada; a Leste e Oeste, o fechamento foi triplo, protegido por brise soleil.
Contrariando o senso comum sobre prédios altos, a face mais larga da torre é a que recebe maior carga de vento. A estrutura curvilínea da torre ajuda a forçar o ar por quatro fendas na fachada, cravadas em dois andares mecânicos, onde estão instaladas turbinas eólicas de eixo vertical. Segundo a Skidmore, esse design deve forçar a velocidade em 2,5 vezes - compensando o fato de turbinas de eixo vertical serem, segundo Eliane, menos eficientes que as de eixo horizontal.
Um sistema baseado na inércia térmica do solo resfria a 25ºC no subterrâneo a água aquecida a 38ºC nas torres de resfriamento do prédio. No Brasil, embora haja pouca informação sobre o potencial geotérmico para a geração de energia, também é possível, segundo Westphal, usar a inércia térmica do solo para a climatização de ambientes internos. "Em São Paulo, se cavarmos um buraco de 6 m de profundidade, a temperatura do solo estará praticamente a 20ºC o ano inteiro. Esse potencial pode ser utilizado por meio de um sistema de tubos enterrados", diz. Tal sistema consiste de uma série de tubos que, quando adequadamente dimensionados  a uma certa profundidade, podem resfriar o ar externo que passa em seu interior quando estiver acima de 20ºC antes de introduzi-lo no ambiente interno para a renovação de ar. Embora exija um consumo para ventilação, este é ainda bem menor que o de condicionadores.
Para tornar o arranha-céu energeticamente independente, a Skidmore incluiu ainda painéis fotovoltaicos no projeto. Embora vários prédios comecem a adotar esses painéis, seu uso em áreas urbanas, servidas por rede elétrica, ainda não é viável, segundo Eliane. "Sua eficiência está em torno de 13%. Porém, geram energia em corrente contínua, enquanto nossas cargas funcionam em corrente alternada, necessitando de outros componentes no sistema, entre eles os inversores. Assim, a eficiência total fica em torno de 10%." Mas, para a professora, esses módulos já são viáveis em áreas remotas onde não há viabilidade de estender a rede da concessionária.
Shunji Ishida, RPBW
Academia de Ciências da Califórnia, que recebeu certificado Leed Platina do Green Building Council americano; seus 10 mil m² de cobertura vegetal absorvem 14 milhões de litros de chuva por ano e contribuem com o isolamento térmico
Torres de vento

O arquiteto alemão Eckhard Gerber e os engenheiros ambientais da DS-Plan também entraram na corrida da emissão zero, desta vez com um sistema de refrigeração da arquitetura persa: as torres de vento (veja ilustração). Na Burj al-Taqa, aberturas na fachada a cada cinco andares permitirão que a pressão negativa criada na face oposta à que recebe a carga de vento retire o ar quente das salas. Num poço subterrâneo com água do mar, o ar seco do deserto será refrigerado pela evaporação. Com o diferencial de pressão entre o interior do prédio e o poço causado pelos ventos, não será necessária nenhuma ventilação mecânica para trazer o ar fresco até os corredores e escritórios por meio de cinco átrios perimetrais transparentes e um central, nos quais serão instalados jardins suspensos.
Para evitar o aquecimento por radiação, um escudo solar cobrindo um segmento de 60º girará em torno do prédio entre as camadas da fachada dupla de acordo com o percurso do sol. Diferentemente de brises soleil estacionários, o escudo ficará somente onde e quando for necessário.
Segundo Gerber, esses e outros sistemas devem reduzir em 40% o consumo energético do prédio em comparação a semelhantes. Para torná-lo 100% auto-suficiente, foram previstos uma turbina eólica de eixo vertical tipo Darrieus de 60 m de altura no topo da torre, dois conjuntos de painéis fotovoltaicos no total de 15 mil m² e uma ilha flutuante de painéis solares de 17 mil m² sobre o mar. O excedente deve ser usado na eletrólise de água para obter hidrogênio, utilizado na geração de eletricidade à noite.
Rodas gigantes
Na gincana tecnológica não basta mais que hélices girem. O prédio inteiro precisa fazer malabarismos. O arquiteto florentino David Fischer criou a Dynamic Tower - um projeto de edifícios de uso misto cujos andares giram independentemente numa velocidade de uma rotação por 1,5 hora em volta de um eixo central, onde estão instalados elevadores e tubulações elétrico-hidráulicas. Escondida entre cada andar está instalada uma turbina eólica horizontal que gira nesse mesmo eixo. Fischer espera que elas gerem toda a energia do edifício-carrossel, junto a células fotovoltaicas instaladas nas lajes de cada andar, que terão 20% da superfície exposta ao sol.
A primeira torre, com 80 andares espalhados em 420 m, está prevista para Dubai - onde apartamentos já podem ser reservados. A segunda deve ser construída em Moscou, com 70 andares e 400 m de altura.
Somente o eixo central deve ser construído no canteiro de obras. Já os apartamentos serão como um grande Lego, compostos de módulos em formato de fatias com acabamento e sistema elétrico-hidráulico prontos, industrializados na Itália. Os gastos com transporte estão muito longe de qualquer parâmetro de sustentabilidade, mas, por outro lado, a montagem in situ dos módulos por meio de guindastes é extremamente limpa.
Segundo Fischer, cada andar poderá ser completado em sete dias, com tempo de construção reduzido em aproximadamente 30%. De acordo com o arquiteto, a construção da Dynamic Tower precisaria de 600 operários e 80 técnicos no canteiro, comparados a 2.000 num projeto de mesma escala não pré-fabricado.
Os objetivos da pré-fabricação não são apenas reduzir o tempo de montagem e diminuir gastos na escala, mas também replicar o modelo e espalhar torres giratórias pelo mundo.
Alcir Moro, presidente da construtora curitibana Moro, não se mostra eufórico diante da idéia de David Fischer. "Esse projeto é apenas publicidade. Não há nada construído. A primeira verdadeira torre giratória construída no mundo está aqui, no Brasil", diz Moro.
Após dez anos de projeto e construção, foi concluído em 2004 em Curitiba seu Suíte Vollard. São duas torres interligadas de 11 andares: uma circular em que cada pavimento gira independentemente, propulsionado por um motor de ¾ de HP, na velocidade de uma rotação por hora, e outra fixa onde estão instaladas a circulação vertical e a parte hidráulica, como cozinha.
Até hoje, a rotação dos apartamentos não resultou em moradores. "Trata-se de um prédio conceitual, de um laboratório. Foram decorados quatro apartamentos para uma feira e, depois, desmontados", diz Moro. Hoje, passa por uma reforma que deve ser concluída em abril de 2009. Cada apartamento de 287 m² custará R$ 1,5 milhão - sem turbinas eólicas.
Corte da praça
Jardins suspensos da Califórnia
Quem visita o parque Golden Gate, São Francisco, nos Estados Unidos, encontra 10 mil m² de sua vegetação suspensa sobre colinas artificiais pontuadas por clarabóias. Abaixo dessas 1.200 toneladas de solo e plantas nativas foi inaugurado em setembro de 2008 o novo edifício da Academia de Ciências da Califórnia - complexo que reúne aquário, planetário e museu de História Natural. O prédio, que consome 35% menos energia do que o prescrito pelas leis da Califórnia, recebeu o certificado Leed Platina do Green Building Council americano.
Mas o quão longe vai o benefício proporcionado por esse tipo de cobertura? Neste caso, além de absorver 14 milhões de litros de água pluvial por ano, ela substituiu o isolamento térmico, ajudando a diminuir o uso de ar-condicionado. Os gastos com manutenção como irrigação, podas e reposição foram reduzidos com a escolha de plantas nativas, que melhor se adaptam ao clima da região.
Já em edifícios com áreas menores de cobertura, a contribuição é pequena. "Mas se a maioria dos prédios passar a adotar esse tipo de solução, o benefício para o ambiente urbano vale a pena, pois diminui o efeito de ilha de calor", diz Westphal.


Sede da empresa de biotecnologia Genzyme; escritório Behnisch Architekten empregou heliostatos, espelhos fixos e cobertura prismática para direcionar raios solares até o átrio central do prédio, onde são redistribuídos por espelhos suspensos
Casa dos espelhos
O escritório Behnisch Architekten recebeu da empresa de biotecnologia Genzyme um quebra-cabeça: encaixar 920 escritórios em 33 mil m² usando o mínimo de energia tanto para circulação vertical quanto para iluminação e climatização.
A resposta foi uma microcidade espalhada em 12 andares ao redor de um enorme átrio central, iluminada completamente com luz natural.
Para isso, foram adotadas duas estratégias. No perímetro do prédio, venezianas motorizadas direcionam a luz natural para forros refletores das salas. Já no átrio, a luz entra e é dispersa por meio de uma cobertura de anteparos prismáticos móveis. Para aproveitar o máximo de iluminação durante o dia, heliostatos instalados na cobertura do átrio acompanham o movimento do sol para redirecionar os raios para espelhos fixos que, por sua vez, projetam os raios para o átrio. Dentro do prédio, candelabros de espelhos redirecionam os raios para as salas.
O átrio central serve também para receber o ar quente dos escritórios, que sobe e sai por sua cobertura. Esse fluxo constante mantém os ambientes frescos e ventilados nas estações quentes.  O prédio também recebeu o certificado Leed Platina.
Um projeto assim, no entanto, não pode ser transferido automaticamente ao Brasil, em cuja latitude o céu possui muito mais luminância. "Enquanto em países de clima temperado as grandes áreas envidraçadas se justificam pelo aproveitamento de luz natural, no Brasil elas apenas trazem problemas de ofuscamento de difícil controle", diz Westphal. "Não tem por que usar um peitoril transparente aqui, pois não há ganhos significativos em termos de luz natural. Há, sim, o aumento de carga térmica e desconforto por assimetria de radiação."
Para o engenheiro, mesmo os caros vidros de alto desempenho que permitem a execução de grandes áreas envidraçadas sem prejuízo ao conforto térmico não se justificam. "Aumentar custos não é a melhor solução do ponto de vista da engenharia. Não é sustentável."
Portanto, o melhor aqui seria diminuir a área de janelas e projetar proteções solares externas como brises, que permitem o bloqueio da radiação solar direta quando for indesejável no interior da edificação.
Seriam necessárias soluções mirabolantes dignas dos quadrinhos do professor Pardal para atingir a sustentabilidade? Não, segundo o engenheiro Nelson Kawakami, diretor-executivo do Green Building Council Brasil, organização gestora da certificação de sustentabilidade Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), que já tem 79 construções registradas no País, a maioria - mas não todas - no eixo Rio-São Paulo.
"A tecnologia ajuda, mas não é essencial", diz Kawakami. "O principal para fazer um projeto sustentável é a vontade de fazê-lo, e não a sofisticação tecnológica. O prédio do Banco Sul Americano (1960/63) de Rino Levi, na Avenida Paulista, já era um prédio com conceito de sustentabilidade."
Kawakami cita como exemplo de construção sustentável brasileira o Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras) no Rio de Janeiro, de Siegbert Zanettini e José Wagner Garcia, que deve ser concluído em 2010. "Ele traz tudo de interessante do ponto de vista de um projeto sustentável e sem grandes tecnologias", diz. Essencial para o projeto foi a integração de todas as disciplinas - arquitetura, sistemas de ecoeficiência, paisagismo, planejamento e produção da obra. Para Kawakami, não existe mais espaço para o arquiteto formalista na era da sustentabilidade.
Divulgação: Moro
Edifício Suíte Vollard, concluído em 2004; sua construtora, a curitibana Moro, afirma ser o primeiro no mundo a girar. O recurso, que não tem propósito ambiental, elevou o custo das unidades a R$ 1,5 milhão
Estatal verde

O conjunto de 160 mil m² abrigará o maior centro tecnológico da América Latina, com 4.500 cientistas. Seu desenho, predominantemente horizontal, prevê um edifício central de escritórios com 300 m de comprimento e 50 m de largura do qual partirão prédios laterais, onde se abrigarão laboratórios, orientados a Norte e Sul para evitar a radiação direta.
O projeto foi fortemente influenciado pelo clima quente-úmido, detalhadamente analisado a partir de um banco de dados climáticos feito pelo Labaut FAUUSP de cada uma das 8.760 horas de um ano, incluindo temperatura, umidade, direção e velocidade do vento, radiação solar e precipitação. Suas plantas estreitas com fachadas sombreadas favorecerão ventilação e iluminação naturais e a vista para o mar. Os edifícios serão conectados por espaços de transição entre interior e exterior, com jardins implantados no terraço do edifício central, entre os prédios laboratórios, nas áreas de convivência e nas passagens entre edifícios, criando microclimas.
Outro ponto positivo é a industrialização de seus componentes - ponto em que, segundo Kawakami, o Brasil ainda precisa evoluir, mas que grandes lideranças como o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, já desenvolveram sistematicamente.
O canteiro do Cenpes foi pensado como um local de montagem, e não construção. Com exceção de alguns pilares de apoio e fundações de concreto, privilegiou-se o uso do aço nas estruturas, enquanto o fechamento externo foi feito com painéis pré-moldados de concreto e as vedações internas, em drywall.
Além de um canteiro de obras limpo, isso permite uma grande flexibilidade para desmontar, transportar e montar as peças caso seja necessário reconfigurar o layout do prédio.
Outra unidade da Petrobras - um conjunto de 110 mil m² numa área arborizada da praia do Canto, Vitória (ES) - foi projetada pelo escritório de Sidonio Porto com estratégias ambientais.
Além de levar em consideração a orientação solar e usar um cinturão verde de árvores antigas, Sidonio Porto prevê microclimas mantidos por espelhos d'água e vegetação, brises de chapas perfuradas em branco, aletas que formam uma espécie de veneziana externa e vidros com pigmentação verde-claro. Isso não apenas protege da insolação como não impede a circulação do ar junto às fachadas. A previsão é que o ganho solar fique abaixo de 0,35.
Estudos de vento foram feitos a partir de dados do Ministério da Aeronáutica relativos ao aeroporto de Vitória. A combinação do arranjo dos edifícios e a topografia do terreno permitirão a incidência dos ventos sobre todo o conjunto. Nos edifícios que precisarem de ar-condicionado, a ventilação natural sobre as fachadas removerá parte do calor absorvido da radiação solar.
A maioria de seus prédios terá na laje um piso técnico aberto, como um hiato entre o volume construído e sua cobertura. Isso formará um espaço intermediário ventilado que cancelará ganhos advindos da radiação solar. Já a cobertura do auditório terá um terraço-jardim.
Mas não são necessários os investimentos de uma megaestatal para construir verde.
Na capital paulista, o Eldorado Business Tower, do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos, obteve a pré-certificação Leed Platina do GBC-Brasil. Para isso, atingiu 50% de economia de água, 30% de energia e 75% de resíduos desviados de aterros sanitários.


Divulgação: Atkins
Canarinho ecológico

A Copa de 2014 deve botar em prática no Brasil mais estratégias simples a favor do meio ambiente. A Fifa exigiu que o estádio do Maracanã recebesse um estacionamento para pelo menos cinco mil carros na depredada região dividida entre o Maracanã e São Cristóvão pela linha de trem. O escritório Artetec Arquitetura propôs a transformação do lugar em uma estação multimodal ecologicamente correta, combinando as estações existentes de trem, metrô e ônibus, um estacionamento de carros sobre a linha de trem e outro para bicicletas. Todos os estacionamentos em volta do estádio devem ser transformados em parques para aumentar a permeabilidade do solo, freqüentemente inundado no verão. Também um reservatório subterrâneo será construído para armazenar as águas da chuva coletadas pela cobertura da estação, que depois devem ser usadas para irrigação.
Aberturas na cobertura da nova estação liberarão o ar quente, enquanto um jardim interno imenso abaixo do nível térreo contribuirá para o microclima e painéis solares na cobertura e no estacionamento gerarão energia. O projeto deve começar a ser realizado em agosto de 2009, mas já rendeu uma menção honrosa no prêmio Holcim de 2008 para a América Latina.
Com o pé mais no chão, estratégias podem ser adotadas nas mais simples construções. É o que mostrou um time do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina liderado pela arquiteta Maria Andréa Triana e pelos engenheiros Roberto Lamberts e Marcio Antonio Andrade ao desenvolver uma torre de armazenamento, tratamento e aquecimento solar de água pluvial que pode ser incorporada tanto por moradias novas quanto existentes, mesmo em regiões onde predominam autoconstruções de grande adensamento. O projeto ganhou menção honrosa na premiação da Holcim.
Em uma porção inferior da torre de ferrocimento há uma cisterna que armazena água de chuva coletada pelo telhado da casa. Ela é utilizada, por exemplo, nas descargas. Um coletor solar aquece essa água, que é mantida quente em um tambor, para ser utilizada no banho. Ao substituir o chuveiro elétrico, um quarto do consumo de energia da casa pode ser reduzido. Já na parte superior é armazenada água tratada e potável, para as torneiras de pias.
Eliane considera os coletores solares para aquecimento de água uma das alternativas mais interessantes. "Infelizmente, seu uso no Brasil ainda é muito tímido. Agora que estão surgindo leis municipais e políticas de incentivos para essa tecnologia. Porém há muito por fazer pois não basta exigir seu uso. As edificações têm que estar preparadas para recebê-las", diz a professora.
Seja de alta ou baixa complexidade, disseminar tecnologias energeticamente eficientes é importante para que futuramente seus custos caiam. "Foi o que aconteceu com as lâmpadas fluorescentes compactas", exemplifica Westphal. "No início, eram caras e a economia não pagava o investimento em curto prazo." Com seu incentivo, ganharam credibilidade, seu uso cresceu, e sua oferta também. Resultado: hoje há lâmpadas compactas de qualidade por R$ 9,00 contra incandescentes comuns a R$ 2,00. "O custo é quatro vezes maior e a eficiência também. Ou seja, ela se paga."
E esse é o papel de certificações como o Leed - ou dos experimentos de "professores Pardais". Empresas que têm recursos instalam tecnologias inovadoras. Isso impulsiona a introdução dessas inovações no mercado, populariza os produtos e reduz os custos. No fim, todos saem ganhando.
Divulgação: Atkins
Dubai International Financial  Centre Lighthouse

Dubai, Emirados Árabes Unidos
Atkins
> Altura: 400 m (66 andares)
> Três turbinas eólicas de eixo horizontal de 29 m de diâmetro e 225 kW máximos com ventos entre 15 e 20 m/s
> 4.000 painéis fotovoltaicos
> Projeto conceitual


Divulgação: Gerber 
Architekten
Burj al-Taqa, Bahrain

Bahrain
Gerber Architekten, DS Plan

> Altura 322 m (68 andares)
> Sistema de "torres de vento"
> Turbina eólica de eixo vertical Darrieus de 60 m de altura no topo do edifício
> 32 mil m² de painéis fotovoltaicos
> Estação de hidrólise para produção  de H2
> Brise giratório que acompanha o sol
> Formato cilíndrico para diminuir a área exposta ao sol forte do Golfo Pérsico
> Custo: US$ 406 milhões
> Status: projeto

Shunji Ishida
Academia de Ciências da Califórnia

São Francisco, Califórnia, EUA

Renzo Piano Building Workshop, Stantec Architecture, Arup, SWA Group
> 10 mil m² de cobertura viva absorvem 14 milhões de litros de água pluvial por ano
> 213 mil kWh gerados por ano por  60 mil células fotovoltaicas (5% a 10%  do consumo do prédio)
> 90% do entulho dos prédios antigos reutilizados na construção de uma estrada
> 12 mil toneladas de aço recicladas  e usadas na estrutura metálica do  novo prédio
> 50% de madeira certificada
> 90% de espaços de ocupação intensa iluminados naturalmente
> Isolamento termoacústico feito com algodão de jeans reciclado
> Custo: US$ 429 milhões
> Status: inaugurado (2008)

Anton Grassl
Genzyme Center

Cambridge, Massachussetts, EUA
Behnisch Architekten

> 33 mil m² em 12 andares
> Iluminação interna natural mantida por heliostato no teto que acompanha o sol e reflete raios sobre espelho, que por sua vez os projeta para o átrio do prédio
> Redirecionamento de raios no átrio por meio de candelabros de espelhos
> Venezianas motorizadas que direcionam automaticamente luz natural no perímetro do edifício de acordo com movimento do sol
> 30 mil pontos de automatização controlados por um sistema central
> Cobertura viva
> 1/3 de fachadas duplas, separadas em 1,2 m com vão ventilado durante o verão
> 18 jardins internos
> Painéis fotovoltaicos
> Status: inaugurado (2004)

Divulgação: Zanettini
Cenpes da Petrobras-RJ

Rio de Janeiro (RJ)
Siegert Zanettini, José Wagner Garcia (co-autor), Centro de Pesquisas da Petrobras, Labaut-FAU-USP
Status: Projeto

Dez estratégias de sustentabilidade  do Centro de Pesquisas  da Petrobras
1 - Orientação solar adequada
2 - Forma arquitetônica adequada aos condicionantes climáticos locais
3 - Materiais construtivos das superfícies termicamente eficientes
4 - Superfícies envidraçadas com taxa de WWR (Window Wall Ratio) adequada
5 - Proteções solares externas adequadas às fachadas
6 - Ventilação natural
7 - Iluminação natural
8 - Uso da vegetação
9 - Sistema para uso racional e reúso de água
10 - Materiais de baixo impacto ambiental

Marcelo Scandaroli
Eldorado Business Tower

São Paulo (SP)
Aflalo & Gasperini Arquitetos 

> Resíduos destinados à reciclagem
> Materiais utilizados na construção produzidos na região
> Vagas no estacionamento destinadas a bicicletas e a veículos de combustível menos poluente
> Água captada da chuva e da condensação do sistema de ar-condicionado usada na irrigação de áreas verdes permeáveis, no espelho d'água, em vasos sanitários do térreo e dos subsolos e na lavagem dos pisos  das garagens
> Janelas com vidros de alta transmissão luminosa e baixa emissividade (0,30)
> Ar-condicionado com volume de ar variável (VAV)
> Elevadores com ADC e frenagem regenerativa, que recupera para outros elevadores energia dissipada quando um pára numa descida
> Luminotécnica noturna com lâmpadas fluorescentes atrás de fachada de vidro, evitando holofotes

Divulgação: Sidonio Porto Arquitetos Associados
Petrobras
Vitória (ES)
Sidonio Porto Arquitetos Associados

> Áreas verdes e espelhos d'água entre os prédios, para manter microclimas
> Relação janela-parede de 0,42 e aproveitamento de iluminação natural em 2/3 da profundidade das salas
> Coletores solares para aquecimento  de água para restaurante
> Painéis fotovoltaicos
> Uso de painéis em concreto  pré-fabricado
> Água pluvial armazenada em lagos para ser reutilizada em irrigação
> Tratamento de esgoto para reúso em instalações sanitárias

Divulgação: 
Dynamic Architecture
Dynamic Tower

Dubai, Emirados Árabes Unidos
Dynamic Architecture (David Fischer)

> Altura: 420 m (80 andares)
> 79 turbinas eólicas de eixo vertical
> Células fotovoltaicas
> Montagem modular com pré-fabricados
> Projeto conceitual, apartamentos  sob encomenda
Detalhamento:
20 primeiros andares: escritórios
21º ao 35º: hotel de luxo
36º ao 70º: apartamentos residenciais
71º ao 80º:  mansões verticais
Nas entradas das mansões serão instaladas garagens, que os moradores mais afortunados acessarão por meio de elevadores para carros.
Cada unidade, de 124 m2 a 1.200 m2, deverá custar entre US$ 4 milhões e US$ 40 milhões.
Pearl River Tower
Cantão, Guangdong, China
Skidmore, Owings & Merrill

> Altura: 309 m (71 andares)
> Turbinas elólicas de eixo vertical (Darrieus)
> Painéis fotovoltaicos
> Base larga e estreita para captar  mais vento
> Torres d'água com resfriamento geotérmico
> Em construção
Bahrain World Trade CenterBahrain
Atkins

> Altura: 240 m (50 andares)
> Três turbinas eólicas de eixo horizontal de 29 m de diâmetro e 225 kW máximos com ventos entre 15 e 20 m/s
> Status: construído
> Geração: 1,3 mil MWh por ano
Melhores estratégias para um prédio energeticamente eficiente no Brasil> Uso de brises para promover a proteção solar nas horas mais críticas
> Peitoris opacos, com tratamento térmico
> Uso de vidros com baixo fator solar
> Integração entre luz natural e artificial, por meio de sensores e controles que promovam o desligamento do sistema artificial quando a luz natural for suficiente
> Sistemas de ar-condicionado  com alta eficiência e  adequadamente dimensionados
> Ciclos economizadores integrados aos sistemas de ar-condicionado, quando o clima for propício
> Sistemas de distribuição de ar e controle mais individualizados
> Ventilação natural, quando o uso da edificação permitir
> Simulação computacional do desempenho térmico e energético da edificação para definir as estratégias mais adequadas ao clima e dimensionar adequadamente os sistemas de ar-condicionado.

Fonte: revistaTechné.com
             

Viaduto estaiado em São Paulo tem tecnologia de selas passíveis de manutenção

Peças especiais permitem a passagem dos estais por um pilar maciço, em forma de arco. Obra em fase final de execução tem 122 m de comprimento.

O viaduto estaiado Padre Adelino, na zona Leste de São Paulo, deve ser concluído em 60 dias e tem como principal diferencial o uso de tecnologia de selas passíveis de manutenção. Executado pela Construbase, sob a coordenação da Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras), o viaduto cruza a avenida Salim Farah Maluf e ligará os bairros Tatuapé e Anália Franco ao Belém e à Mooca, melhorando o fluxo da Radial Leste, uma das principais vias de São Paulo.
Divulgação: Construbase
Visão geral do viaduto estaiado Padre Adelino
O viaduto terá 122 m de comprimento, 20,30 m de largura, além de dois passeios laterais de 2 m cada um. Ao todo, serão quatro faixas para veículos, sendo duas em cada sentido. Segundo Antonio Fernando C. Sampaio, engenheiro da Siurb, o método estaiado foi escolhido por possibilitar a execução da obra sem grandes modificações no fluxo da avenida Salim Farah Maluf. "Um pilar central permite a execução das lajes sem que se faça uma intervenção muito grande no movimento da avenida", explicou. A prefeitura chegou a estudar a utilização de sistemas convencionais como vigas pré-moldadas, caixão cimbrado e balanço sucessivo, mas nenhum dos três conseguiu, ao mesmo tempo, vencer o vão pré-definido, de 61 m, e o gabarito (distância entre o solo e a superfície inferior da laje) ideal para a passagem de grandes caminhões.
A solução estaiada com travamento, método convencional no Brasil, também não pôde ser utilizada no viaduto. Isso porque o espaço livre para o posicionamento do mastro central na Avenida Salim Farah Maluf é bem menor do que o necessário para esse tipo de estrutura. "No viaduto Padre Adelino não era possível construir o pilar grande como normalmente é feito, que teria quatro vezes a dimensão do que foi adotado, de 43 m de altura, o que não caberia no meio da avenida"
Os engenheiros então optaram pela tecnologia de selas passíveis de manutenção. "O principal diferencial desse viaduto estaiado é que ele não tem travamento, o pilar é maciço, em forma de arco, e possui selas, que são peças especiais que permitem a passagem dos estais", conta Marcelo Yassuo Sunemi, gerente de produção da Construbase. Com isso, ao invés dos estais serem travados no mastro, eles vão de ponta a ponta no viaduto. "Com as selas, os estais têm as mesmas possibilidades de manutenção dos sistemas convencionais, seja em caso de acidente ou qualquer outro tipo de acontecimento. Por isso, falamos que é passível de manutenção", completa o engenheiro. Ao todo, 40 estais foram instalados na estrutura, sendo cada um formado por 48 cordoalhas de aço.
Divulgação: Construbase
Detalhe das selas já concretadas no arco que serve como pilar central
Outra dificuldade da obra era a esconsidade do viaduto em relação ao pilar central. A esconsidade acontece quando o eixo longitudinal do viaduto não forma um ângulo reto com o eixo longitudinal do obstáculo transposto, no caso, o mastro de 43 m de altura. "Isso influencia em muitos detalhes de projeto executivo, principalmente na geometria do viaduto. Foi preciso implantá-lo com um encaixe no viário esconso de 10° e com um apoio perpendicular à avenida", explica o engenheiro. "Olhando para os estais, em qualquer ponto do viaduto, nunca um cabo fica simétrico ao outro, estão todos 10° torcidos. Não só os estais, como todas as lajes e todos os pontos do viaduto estão girados em 10°", continua.
A obra do viaduto estaiado Padre Adelino foi iniciada em 2007, com a preparação do local. Os engenheiros então fizeram a fundação em tubulão com ar comprimido, depois os pilares do mastro até a altura do travamento onde nascem as lajes, executaram o travamento com mais 1,5 m. Após essa etapa, foi a vez da construção do mastro, que foi concretado em 12 lances, sem contar o fechamento. "Na fase atual, estamos terminando a parte das lajes e fazendo os acabamentos do viaduto", lembra o gerente de produção Construbase.
A construção do viaduto estaiado faz parte da obra do Complexo Padre Adelino, que também é constituído por outras duas intervenções: a construção do Viaduto Catinguá/Balem, que ligará a região da Penha ao Belém e ao Brás, e a ampliação de duas faixas do viaduto Pires do Rio, na Radial Leste, além do seu reforço e reforma. O custo total da obra é de R$ 114 milhões e a previsão de inauguração do complexo é para dezembro de 2010.
Divulgação: Construbase
Estrutura será sustentada por 40 estais
Divulgação: Construbase
Obra já está na etapa de acabamento
Divulgação: Construbase
Viaduto está 10° esconso em relação ao mastro central
Divulgação: Construbase
Três obras do Complexo Padre Adelino: viaduto estaiado (esquerda), ampliação do viaduto Pires do Rio (centro) e novo viaduto Catiguá-Balém (direita)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Transformando cana de açúcar em concreto

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos estudam a substituição da areia pelas cinzas de cana de açúcar na produção de concreto
Por: Lilian Júlio
Almir Sales
Há mais de dez anos pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) buscam soluções para substituir matérias como areia e brita na construção civil. Uma das pesquisas desenvolvidas pela instituição descobriu que é possível substituir parte da areia utilizada na produção de concreto e argamassa por cinzas de cana de açúcar. A pesquisa, chefiada pelo professor e engenheiro civil, Almir Sales, será finalizada em março de 2011, mas os resultados até agora indicam que esta pode ser uma boa alternativa na construção civil.
É o fator ambiental a causa de maior preocupação dos pesquisadores. A extração dos agregados naturais, como brita e areia, causa danos irreparáveis ao meio ambiente, e o bagaço da cana de açúcar é um resíduo sem utilidade, que acabava sendo queimado e suas cinzas depositadas em aterros sanitários (anualmente são produzidas cerca de 3,8 milhões de toneladas de cinzas de cana de açúcar pela indústria sucroalcooleira nacional). “Os agregados naturais estão se tornando mais caros, já que a forma de extração desses produtos degrada o meio ambiente”, explica Sales.
Com o setor da construção civil aquecido, a procura por matéria prima também irá aumentar nos próximos anos. A previsão do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) é que os empregos na construção cresçam 8,8% este ano. Esse crescimento preocupa alguns pesquisadores, que temem o alto custo do concreto, que é a principal matéria prima da construção civil. É a lei da oferta e procura, pois quando a demanda por um produto é maior do que a sua disponibilidade o seu preço tende a aumentar.
A partir dessas constatações o professor Sales começou a pesquisar alternativas para amenizar o problema. “Com a substituição por cinzas de cana de açúcar haverá menor impacto na necessidade de extração de areia natural e, simultaneamente, a diminuição da formação de novos aterros sanitários para depositar esses resíduos no ambiente”, explica o pesquisador.
Pesquisa em andamento
Por ainda não estar finalizada a pesquisa gera algumas dúvidas, como a resistência e durabilidade do concreto com cinzas de cana de açúcar em sua composição. “As vantagens e desvantagens só poderão ser apresentadas ao final dos estudos, com a análise comparativa desse concreto com o convencional”, afirma o professor Sales. Mas os resultados preliminares são animadores na questão da resistência do material. “Para um teor de substituição de 30% a 50% houve um incremento de até 15% na resistência à compressão, mostrando que o concreto com cinzas de cana de açúcar é mais resistente do que o com areia”, revela o engenheiro.
Apesar das boas constatações iniciais, o estudo ainda está sendo feito em escala laboratorial e é preciso aguardar o resultado final para verificar se o produto é ideal para o mercado – o que só acontecerá no próximo ano. “O custo final, por exemplo, só poderá ser aferido ao final da pesquisa”, analisa Sales. Se os resultados confirmarem que a substituição é viável os pesquisadores entrarão em outra fase para levar o produto adiante. “Aí precisaremos de investimentos de empresas ou instituições públicas para passar para uma escala de produção”, afirma Sales.
Entrevistado:
Almir Sales
- Docente e orientador no Curso de Pós-Graduação em Engenharia Urbana e no Curso de Pós-Graduação em Construção Civil da Universidade Federal de São Carlos.
- Líder do grupo de pesquisa intitulado Grupo de Estudos em Sustentabilidade e Ecoeficiência em Construção Civil e Urbana.
Email: almir@ufscar.br
Jornalista responsável: Silvia Elmor – MTB 4417/18/57 – Vogg Branded Content
Fonte: Blog Massa Cinzenta

Como conservar o concreto aparente

Robustez com elegância do concreto aparente chama a atenção de engenheiros e arquitetos. Mas precisamos protegê-lo
Por: Engª. Giovana Medeiros – Assessora Técnico Comercial Itambé
O concreto aparente tem sido utilizado pelos engenheiros e arquitetos para realçar a beleza de grandes construções. Ele tem como característica deixar à vista sua coloração e textura naturais e, no Brasil, não faltam exemplos marcantes que tiram bastante proveito da beleza plástica deste material.
Em São Paulo, encontram-se os edifícios da IBM, o Masp e o Hotel Unique, que utilizam três cores de concreto aparente. Em Curitiba, o Teatro Guaíra e a estátua do Homem Nu são obras que se tornaram ícones e exploraram a beleza do concreto aparente.
Teatro Guaíra - Curitiba (PR)
O sucesso ou não da execução de estruturas de concreto aparente depende de alguns cuidados, começando pelo projeto. Tanto o projeto arquitetônico como o estrutural devem considerar as condições de exposição.
Outros aspectos que devem ser levados em consideração são: a utilização do mesmo tipo de cimento e agregados, os cuidados na execução das fôrmas, a aplicação uniforme de desmoldantes, os cuidados de lançamento, adensamento do concreto e o cumprimento do tempo de cura adequado, vão definir a qualidade final da obra.
O próprio concreto deve ser especificado para ficar aparente, ou seja, deve ter bom teor de argamassa e trabalhabilidade que permita uma concretagem sem bolhas e vazios. O uso de fungicidas e bactericidas para evitar o ataque de fungos, também deve ser considerado.
Hotel Unique - São Paulo (SP)
O concreto aparente, principalmente nos grandes centros, sofre a ação de diversos agentes agressivos. Fuligem, CO2, sulfatos e cloretos são alguns exemplos. Mas, as próprias condições climáticas com sol e chuva, ao longo do tempo, deterioram as estruturas e o aspecto fica bem prejudicado. Por este motivo é necessário tomar precauções para manter o concreto aparente conservado.
Para proteger superficialmente o concreto aparente comumente são utilizados os vernizes e hidrofugantes. Os vernizes formam filme contínuo e são mais eficientes na proteção de agentes agressivos. Os vernizes foscos têm a vantagem sobre os brilhantes, pois não alteram o aspecto original do concreto e não evidenciam as imperfeições do material bruto. Já os hidrofugantes são capazes de penetrar alguns milímetros nos poros do concreto, impedindo a penetração de água e de substâncias agressivas nela dissolvidas.
Outras formas de conservar o concreto, sendo ele aparente ou não, são as inspeções periódicas, além da limpeza adequada e reaplicação de eventuais sistemas de proteção superficial existentes.
Jornalista responsável: Silvia Elmor – MTB 4417/18/57 – Vogg Branded Content